In http://t0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcR0huCjC4v-fZNJiS-STBPdQcwjhxm7VkZw-UzE-MZW-Bkns0rFdvZ5sMFU
A imperícia não saía da cabeça: por
mais que tentasse, por mais que quisesse imitar certos vultos da literatura que
ensaiaram contos infantis, escorregava para a palavra hermética que os mais
novos não haveriam de entender. Quantas folhas de papel alinhavadas com
histórias infantis desaguaram no lixo?
Às vezes, quando germinava uma ideia a
preceito para um conto infantil, juntava meia dúzia de crianças e as palavras
começavam o seu débito. Não seria do ar infantil que punha ao narrar o enredo,
que os petizes não são sagazes para perceberem o tratamento infantilizado que
combina com a audiência. Só podia ser do desinteresse da história; as crianças
não demoravam a desmobilizar a atenção – um bocejo aqui, uma cabeça coçada
várias vezes ali, a desatenção aviltando a solenidade que o esforçado contador
de histórias suplicava, para seu bem-estar.
Talvez o mal estivesse na sua muita
erudição. E de querer trazer tanta erudição para a escrita. Os textos eram
intratáveis, punham o leitor mediano a léguas. Mas ainda se descontava que a
literatura adulta afivelasse o hermético – ele não há tanta literatura que se
distingue pela linguagem elaborada? Contaminado pela verborreia vertida em literatura,
as tentativas de conto infantil levavam com os mesmos vícios: o raciocínio
elaborado, a palavra aqui e ali desconhecida dos infantes que a lessem, finais de
história a despropósito. Quando insistia em oferecer nacos destas histórias em
declamações feitas pelo próprio, as crianças, genuínas como mais ninguém é, não
tardavam a mostrar a indiferença e, caso ele insistisse, o desprazer. Ouviu uns
vitupérios de uns rapazes impertinentes que havia açambarcado numa atividade
extraescolar arranjada pela namorada que lá era professora. Um deles disse,
alto e bom som, “dedica-te à pesca que
não tens jeito para contador de histórias”.
Ficou três dias sem sair da cama. Nem
as piores críticas à outra literatura doeram tanto como aquele desconchavo tão
ofensivo. Mas há males que contêm a sua própria cura. Foi o remédio para deixar
de vez os ensaios da literatura infantil. Percebeu, nessa altura, que não seria
acaso a paternidade nunca o ter sondado.
Sem comentários:
Enviar um comentário