24.12.12

Um conto natalício


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Crianças:
Estejam em alvoroço. Mais logo chegam as prendas. Dizem, talvez aproveitando-se da vossa inocência, que o pai natal é que as traz. Vem montado em trenó com a força motriz de renas árticas. O pai natal, rival de deus no atributo da omnipresença, há de descer pela chaminé e depositar as prendas em cada sapatinho sem se enganar nos destinatários. Ato contínuo, fazendo jus ao tirocínio de alpinista, trepa o túnel da chaminé e, exemplar na fatiota (que não se emporcalha de fuligem), prossegue a exaustiva função noutras paragens.
Há um problema: uns tiranetes que querem apreender os sonhos infantis espalharam o rumor que o pai natal não existe. São uns invejosos, não lhes passem cartão. Se puderem, assim que esbarrarem nestes presunçosos, atirem-lhes um pontapé nas canelas. Não há direito. É gente sombria que persegue vestígios da maldade. Parecem abutres ansiosos por tirar dos rostos felizes os rudimentos dessa felicidade. Sabotadores, dir-vos-ão que o pai natal é uma fantasia. Não se demovam dos sonhos. Digam-lhes que não são os estudos que dão lastro à autoridade com que se passeiam. Ensinem-lhes que os sonhos são o aluvião de onde vêm as fatias mais saborosas da existência. Sobretudo quando a existência é um fulgurante ocaso em que se demitem os prazeres que deviam ser dados à existência.
Sabem? Vocês, os mais novos que acreditam no pai natal, é que têm lições para oferecer. Conseguem ser deste mundo vivendo enfarpelados nas fantasias em que se refugiam. O pai natal é apenas um intérprete. Que interessa se existe? É o símbolo dos sonhos que vos deixam em êxtase durante uma temporada inteira antes dos relógios assinalarem a noite da orgia de brinquedos. Que mal vem ao mundo quando dele fogem, se ele é uma alvorada que não apetece ver?
Ensinem aos mais velhos que mais vale um sonho irreal do que a realidade tingida com as sombras pesadas de onde parece não haver fuga qualquer.

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