19.12.12

Contrabando


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Temos de fugir a salto? Para que ninguém nos veja, julgando que transgredimos uma lei qualquer. Se damos por certo que olhares outros são nossos julgadores, e se por eles se empunhar a batuta a que nos julgamos obedientes, teremos o arrependimento do contrabando. Até parece que transacionamos objetos roubados, ou que metemos na fronteira coisas que as leis não deixam entrar. Acaso é o que fazemos?
Não queremos ser reféns de uma moral qualquer. Não importa o que condimenta essa moral – que as há rançosas e outras que não nos importaria tolerar. Mas apenas tolerar. Pois a rebeldia é a coreografia por onde andam os nossos corpos, pelo punho do pensamento descomprometido, desipotecado de sobressaltos que vinham de fora. Aprendemos com o tempo. Às voltas do tempo tivemos o tirocínio que fabricou uma serenidade intemporal. Os olhos já só se marejam quando somos tutores das lágrimas vertidas. Enquanto os dedos se entrelaçam em estouvadas demandas, sendo nós os tutores das demandas, o resto perde importância.
Pois que seja: contrabandistas seremos. Damos o peito às balas. O penhor da ignomínia fica entregue a juízos alheios. De resto, esse penhor pouco importa. Se servisse para sitiar a nossa liberdade, seria um pedaço larvar de infâmia. Mas nem a isso pode aspirar, que a grandeza que em nós habita cauciona a indiferença. Passamos ao largo da gente madraça que é parasita da existência dos outros. A grandeza em que prosperamos é como um espaço de levitação, ou como se transitássemos por um planeta desabitado pelos outros. 
Que seja contrabando. E mesmo que às convenções dissermos nada, que se não abata sobre nós o peso da vergonha. Só transgredimos as leis que em nós medram, não as leis que outros julgam sobre nós impor. Se isto é contrabando, vamos erguer um cálice na enseada onde aportam as barcaças que trazem as mercancias proibidas. 

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