In https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgfmYKdjvwxveCccIwPzqrVmx9rMfjjkzGN5xHb4N7Fxfv8gevUXPESDR_Hc27uVq7NrJSBoeOaSt2GUd0VJyple6mevWZzq_9jTeXPo9349k3UdjC9xfBrA0toOdPBuUCNFj6C/s1600/Luz+e+sombra.jpg
Temos de fugir a salto? Para que
ninguém nos veja, julgando que transgredimos uma lei qualquer. Se damos por
certo que olhares outros são nossos julgadores, e se por eles se empunhar a
batuta a que nos julgamos obedientes, teremos o arrependimento do contrabando.
Até parece que transacionamos objetos roubados, ou que metemos na fronteira
coisas que as leis não deixam entrar. Acaso é o que fazemos?
Não queremos ser reféns de uma moral
qualquer. Não importa o que condimenta essa moral – que as há rançosas e outras
que não nos importaria tolerar. Mas apenas tolerar. Pois a rebeldia é a
coreografia por onde andam os nossos corpos, pelo punho do pensamento
descomprometido, desipotecado de sobressaltos que vinham de fora. Aprendemos
com o tempo. Às voltas do tempo tivemos o tirocínio que fabricou uma serenidade
intemporal. Os olhos já só se marejam quando somos tutores das lágrimas
vertidas. Enquanto os dedos se entrelaçam em estouvadas demandas, sendo nós os
tutores das demandas, o resto perde importância.
Pois que seja: contrabandistas seremos.
Damos o peito às balas. O penhor da ignomínia fica entregue a juízos alheios.
De resto, esse penhor pouco importa. Se servisse para sitiar a nossa liberdade,
seria um pedaço larvar de infâmia. Mas nem a isso pode aspirar, que a grandeza
que em nós habita cauciona a indiferença. Passamos ao largo da gente madraça
que é parasita da existência dos outros. A grandeza em que prosperamos é como
um espaço de levitação, ou como se transitássemos por um planeta desabitado
pelos outros.
Que seja contrabando. E mesmo que às
convenções dissermos nada, que se não abata sobre nós o peso da vergonha. Só
transgredimos as leis que em nós medram, não as leis que outros julgam sobre
nós impor. Se isto é contrabando, vamos erguer um cálice na enseada onde
aportam as barcaças que trazem as mercancias proibidas.
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