Carpir as lágrimas todas quando o sal
maliciosamente cai sobre as partes do corpo descarnadas? Sim, és humano e a
ninguém é dado negar a dor quando a dor arranca das entranhas gritos aflitivos.
Ou não, ambicionando à mesma a humana condição, mas emproas um estendal de
sobre-humanidade só para te verem como uma parecença com super-herói?
Não interessa a destrinça. A dor é a
dor, exibida ou não, com lágrimas ou sem elas, subam as cicatrizes à pele
exposta ou sejam remetidas ao recato interior. Quando na carne viva se deitam
os sais maliciosos, como se o perpetrador quisesse enfiar uns toros incendiados
em lacre de carne, a quem se pode erguer o dedo se um esgar pungente subtrai as
cores avivadas do rosto? À carne viva, ainda sem as cicatrizes que hão de
durar, sente-se odor queimado quando os sais acidulam na sua reentrância. Torturadores
cobertos por um capuz densamente negro prendiam-te as mãos, os movimentos
imobilizados. E tu, com a carne a arder, berrando com os decibéis que podias, lutavas
com a dor excruciante.
Na alvorada seguinte desembainhaste os
sentidos. Como gastaste tantas preces a suplicar que caísses em coma! Os
algozes mantinham os teus sentidos em vigia. Era a tortura que te aplicavam, o
sono agora proibido. Queriam a confissão que nem da carne viva conseguiram
arrancar. Passaram os dias. Não sabias quantos, perderas a noção do tempo
metido em masmorras escondidas da luz natural. Até que o figurão todo
importante, imponente na sua farda luzidia, pôs os encapuçados em respeito à
sua chegada. A tua debilidade distorcia o olhar, não conseguiste saber quem era
o mandante de tantas atrocidades. Segredaram, o chefe e os subordinados. O
comandante, com um gesto autoritário, deu ordem de livramento.
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