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Numa roda de gente, há um que puxa os
galões do humor. O que se julga mais engraçado, o predestinado do humor. O
resto da gente devia agradecer. Que ninguém desdenhe do humor provido em forma
de serviço público, na mais desinteressada generosidade. Só que o fautor de
humor enganou-se na função, tanta a incompetência para desatar um sorriso, um
sorriso amarelo que seja, a quem o escuta.
Quando persiste no exercício,
emaranha-se no risível. Talvez seja carência de protagonismo, ele ali no centro
das atenções, toda uma audiência de boca aberta, ou entediada, a ouvir chistes
desinspirados. Errou na função e não se consegue ouvir, nem ver, a si mesmo.
Deve viver dentro de uma nuvem só habitada por ele, pés no ar e tudo, para julgar
que continua ungido pela empreitada do humor. E não interessa se a piada é
fácil ou elaborada, que o resultado esbarra na apatia da audiência. Podia-se
queixar da apatia de quem o ouve. Assim como assim, um módico de gratidão não
ficava mal à audiência, nem que fosse reconhecimento pelo esforço na
generosidade humorista.
Ouvimo-lo a contar anedotas que
rivalizam com a aridez dos desertos. A meio da anedota, intui-se que dali nada
vai quadrar com humor. No fim da anedota, uns segundos breves depois do seu
fim, o contador desfaz-se em gargalhadas sonoras perante a passividade do resto
da gente à sua roda. E só uns instantes depois os demais se embrulham numa
gargalhada coletiva. Que não foi motivada pela pilhéria rasa. Escangalham-se a
rir com a gargalhada farta e ela própria risível do arremedo de humorista.
Um dia, perguntámo-nos, já quase
entregues à perplexidade, se o humorista não seria tão avançado na inteligência
e nós nos seus antípodas. Pois se ali não discerníamos um grama de graça. Podia
ser que fossemos todos diminuídos de inteligência e não conseguíssemos atingir
o grau de humor do humorista de serviço. Parciais como sabemos ser, uns dias
depois decretamos inválida a hipótese. E o assunto ficou arrumado, com a
perplexidade devolvida à procedência.
O humorista nunca mais fez humor
rasteiro na nossa roda de gente.
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