25.12.12

Bolo-rei é o que o homem quiser


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A quadra que atravessamos repete hábitos, é um lugarejo conservador. Ele são os circos, os natais dos hospitais, as comezainas que enfartam, o coro de Santo Amaro de Oeiras, as prendas inúteis, as roupas que brilham, tão novas, no dia de Natal, o bolo-rei. Como o homem precisa de reinventar hábitos (não seja vergado pelo peso da rotina), até os natais começam a ser diferentes. Andamos cansados da receita tradicional do bolo-rei, ou há pessoas que já a enjoaram; peça-se emprestada a criatividade dos gastrónomos para servir de inspiração aos pasteleiros.
Ele há bolos-reis para todos os gostos e feitios. Sem frutas cristalizadas, não vão os comensais natalícios temer que o seu porvir, que se joga nas promessas solenizadas dentro de uns dias quando for o réveillon, se cristalize na modorra. Ele há bolo-rei de chocolate, porque estes tempos de sacrifício convocam compensações adocicadas. Para rimar com a quadra, que também se esmera no nonsense, há reinterpretações do bolo-rei. Ele é o bolo-rei de castanhas, o bolo-rei macrobiótico, até um bolo-rei ornamentado com pétalas de ouro comestível. À laia de chefe de cozinha aureolado no estrangeiro, daqueles que usam prosápia para descrever as criações gastronómicas, eis algumas propostas de bolo-rei alternativo:
- bolo-rei campestre: massa de folar de Páscoa recheada com carnes diversas dos fumeiros gourmet, cobertura de molho de frutos silvestres e polvilhado com canela em pó.
- Bolo-rei marinho: massa folhada levemente sovada (fermentação prolongada), recheio de polvo cozido com estágio em salmoura de caril, e cacau da Guatemala ungido com vodka preta.
- Bolo-rei das arrelias: massa típica de bolo-rei em segunda mão (ressequida em grau três), pedaços de hortelã e cominhos, raios de sangue de porco, mel de urze e infusão de bacalhau cozido em azeite a 64 graus durante uma hora e dezassete minutos.
- Bolo-rei Nietzsche: embrulho para prenda contendo dois quilos de farinha peneirada, fermento padeiro q.b., ovos de galinha campeã, frutas secas de primeira escolha, água de Evian e açúcar mascavado da Colômbia, com serigrafia de Joana de Vasconcelos com instruções de confecção ilustradas.

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