12.12.12

A menina que não queria prendas de natal


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Os correios, dando para o modismo da “responsabilidade social”, incentivaram os meninos pobres a escreverem ao pai natal. Pedissem o que lhes aprouvesse, que os correios arranjavam mecenas a preceito. O relações públicas dos correios listava os pedidos, uns banais e outros criativos, dos meninos carenciados. Lembrou-se de uma menina que escreveu, na carta dirigida à Lapónia, “não quero nada”. Teimoso, o funcionário informou a imprensa que ia tratar, junto do orfanato da criança, de a demover daquele pedido monástico.
Que interessa a vontade da menina? Pois se os fantásticos feitores da caridade natalícia entronizaram o imperativo da prenda para os meninos com direito a deslumbramento por ocasião das festividades, que interessa a vontade da menina? Lá irá o cortejo de gente importante dos correios, de braço dado com o secretário de Estado da tutela, mais os repórteres televisivos a tiracolo, mostrar à sociedade sequiosa de caritativos atos por ocasião do natal que a menina modesta não tem direito à sua modéstia.
E se deixassem a menina em paz? Poderão psicólogos infantis perorar sobre o estado depressivo em que a menina se consome, pois nada querer será demissão da vida. Serão os mesmos que em manifestações de rua protestam contra o “desprezível capitalismo” e berram contra a “manipulação do consumismo” que nos sitia e atrofia. E se deixassem a menina em paz? No seu mundo próprio, com a vontade de nada querer quando chegarem as renas montadas pelos pais natais que irradiam estéril felicidade pelos lares onde as criancinhas aspiram ao seu módico de consumismo. A menina tem direito ao seu nada. Vale mais do que todos os muitos que a caridade social, com a bênção das consciências atormentadas que se exoneram de remorsos através da caridadezinha, queira deixar no sapatinho da menina.
Aos funcionários dos correios armados em engenheiros sociais, quais ditadores da caridade oportunista, haja quem lhes deixe na soleira do gabinete o livro de Nietzsche “Assim falava Zaratustra”.

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