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Os correios, dando para o modismo da
“responsabilidade social”, incentivaram os meninos pobres a escreverem ao pai
natal. Pedissem o que lhes aprouvesse, que os correios arranjavam mecenas a
preceito. O relações públicas dos correios listava os pedidos, uns banais e
outros criativos, dos meninos carenciados. Lembrou-se de uma menina que escreveu,
na carta dirigida à Lapónia, “não quero
nada”. Teimoso, o funcionário informou a imprensa que ia tratar, junto do
orfanato da criança, de a demover daquele pedido monástico.
Que interessa a vontade da menina? Pois
se os fantásticos feitores da caridade natalícia entronizaram o imperativo da
prenda para os meninos com direito a deslumbramento por ocasião das
festividades, que interessa a vontade da menina? Lá irá o cortejo de gente
importante dos correios, de braço dado com o secretário de Estado da tutela,
mais os repórteres televisivos a tiracolo, mostrar à sociedade sequiosa de
caritativos atos por ocasião do natal que a menina modesta não tem direito à
sua modéstia.
E se deixassem a menina em paz? Poderão
psicólogos infantis perorar sobre o estado depressivo em que a menina se
consome, pois nada querer será demissão da vida. Serão os mesmos que em
manifestações de rua protestam contra o “desprezível capitalismo” e berram
contra a “manipulação do consumismo” que nos sitia e atrofia. E se deixassem a
menina em paz? No seu mundo próprio, com a vontade de nada querer quando
chegarem as renas montadas pelos pais natais que irradiam estéril felicidade
pelos lares onde as criancinhas aspiram ao seu módico de consumismo. A menina tem
direito ao seu nada. Vale mais do que todos os muitos que a caridade social,
com a bênção das consciências atormentadas que se exoneram de remorsos através
da caridadezinha, queira deixar no sapatinho da menina.
Aos funcionários dos correios armados
em engenheiros sociais, quais ditadores da caridade oportunista, haja quem lhes
deixe na soleira do gabinete o livro de Nietzsche “Assim falava Zaratustra”.
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