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Já que a União Europeia recebeu ontem o
prémio Nobel da paz (não é que a distinção tenha grande serventia): e se
fôssemos europeus de uma vez por todas? Sem ser à força. Sem ser pela força das
armas, que são vetustas e não quadram com o avanço cultural a que chegámos
(haja, por uma vez, otimismo antropológico). Também sem ser à força de decisões
na ponta da baioneta do poder político – aquele que vem da vontade popular
vertida nos boletins de voto e que depois embarca em aventuras que são corpos
estranhos para os cidadãos. Teria de se arranjar um método que viesse da
vontade dos cidadãos. À falta de melhor, um referendo. À escala europeia. No
boletim de voto, uma pergunta: prefere manter a nacionalidade que tem, ou
elevar o europeísmo a nacionalidade?
(Convinha explicar, na campanha
eleitoral, que o nacionalismo europeu seria construído no respeito pelos
nacionalismos que retratam a diversidade na Europa – tanto os nacionalismos das
nações admitidas, como os nacionalismos obstruídos pelas nações admitidas.)
Seria um nacionalismo moderno,
transnacional. Decretar-se-iam vinte anos de transição para a pedagogia do
nacionalismo europeu e transnacional. Uma transição de dentro para fora:
durante esses vinte anos, a governação local, regional e nacional seria feita
por cidadãos de outros países. Haveria uma bolsa de candidatos selecionados
entre partidos políticos e associações de cidadãos independentes. As listas de
candidatos seriam um mosaico de nacionalidades. Os nacionais do lugar em
eleições só podiam ser assessores dos eleitos. Em jeito de muleta de
contextualização.
O distanciamento não provocava dano à
qualidade da governação. Pois o afastamento colocá-los-ia fora das traficâncias
de influências que medram em jantares, cocktails,
prendas de natal sumptuosas e alcavalas que se esgueiram debaixo da mesa. Ao
fim de cinco anos, a equipa de governantes teria de ser substituída. Os
candidatos a eleitos rodavam de país em país a cada cinco anos.
Podia ser que o espírito europeu germinasse,
sobrepujando-se aos paroquialismos locais que são um atavismo em forma de
bloqueio. E então seríamos europeus a sério. Não apenas em sonhos idealizados
por gente vanguardista, gente à frente do seu tempo (ou apenas gente desfasada
de um tempo algum, diriam os críticos). Quando um belga governasse a Ligúria, um
letão fosse mayor de Newcastle, um
polaco presidisse à região de Ardeche, ou um português ditasse leis na Baviera,
seríamos europeus de uma vez por todas. Sem sermos reféns das madraças
nacionalidades que já derramaram sangue de mais.
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