A mão do papa não se deixa à mão de semear

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A segurança papal estava distraída. Como puderam deixar que o papa, talvez também distraído, pusesse a beata mão mesmo à frente da bocarra esfaimada da fera? Dirão: era um leão infante, ainda não lhe chegaram os vapores ferozes, às mandíbulas falta a força bruta das feras em estado selvagem, a dentição de leite não faz estragos como nos leões adultos. Nunca fiar. Mais a mais quando quem se põe à frente do risco é sua santidade – ou qualquer personalidade a quem tenha sido investida digníssima sinecura.

E se o leãozinho, naquele ar já ferino que a imagem retrata, fizesse um movimento brusco e apanhasse a mão santa do santo padre? Dirão: não é provável, o leões de circo são amestrados. Quando saem à rua, vão aturdidos com calmantes. O jogo faz-se num campo inclinado. O papa estendeu a mão à frente da boca do animal sabendo que ele estava em pré-anestesia. É falsa coragem. Dirão (agora os mais católicos): não era preciso. A intervenção divina (o papa, para além dos sapatos vermelhos Prada, usa um chapéu onde acama a proteção divina) era escudo bastante para amestrar a fera. Até podia ser um leão com assustadora juba, já passado em adulta idade, que a mão beatífica de sua santidade, interposta pessoa de deus na terra, trataria de congelar os instintos carnais da besta. Far-se-ia um dos habituais milagres que, contudo, exigiria a convocação da congregação que analisa a veracidade dos milagres imputados a santos.

Mas insisto no apocalíptico cenário, pois o santo padre correu riscos: e se o bicho abocanhava a mão do papa? E se a mão do papa ficasse seccionada, sem hipótese de reversão? Quem passaria a dar a bênção na missa papal? E, já que os consultores de imagem do papa quiseram mostrar um flanco modernaço (mandaram dizer que o papa vai aderir ao Twitter), à falta de mão (a direita, como se vê na foto), como twittaria sua eminência?

Naquele instante, os fieis tremeram de medo.