14.12.12

O exílio incerto


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Sair ou ficar? O olhar dela perdia-se no firmamento, no mesmo firmamento onde o sol se confundia com a água tingida por uma tonalidade laranja oxidada. Parecia, aquele olhar remoto, uma confissão de perda. Diriam os desatentos, os que passassem por ela como estranhos, que nas veias fumegavam os vapores da ira. Os ossos do rosto pousados nas mãos, as mãos como ossos duros que amparam uma árvore centenária.
E ela, indiferente ao que sobrava em redor, debatia-se em seus pensamentos. Nas interrogações que não ganhavam o braço às respostas. Revivera o que estava para trás e a inutilidade do que fizera. Os estudos, as noites perdidas em sabatinas sacrificiais para empinar calhamaços com saberes áridos, os litros de café, as pastilhas proibidas, os namorados evaporados porque andaram inimizados com os estudos, as zangas com o pai que queria que ela fosse modelo, os concertos que riscara da agenda por causa das noites de estudo, as férias hipotecadas porque o pai deixou de subsidiar os estudos – e tudo para um nada do tamanho da escuridão toda.
Era um daqueles cursos que fora promissor, não tivesse ela nascido à tardança para o mercado que se esgotara. Umas amigas davam aviso: “faz como nós, emala os pertences e exila-te, que é cá fora que arranjas emprego decente.” Ela resistia. E o pior é que nem sabia por que resistia. O pai não dava notícias há meses, a mãe estava emigrada na África do Sul – era o seu fraco sustento, com o soldo que metia em transferência bancária a cada dia cinco. Os amigos andavam arredios. Só se fosse pela irmã e pelos sobrinhos, um consolo da alma. Que, de resto, tirando uns biscates a servir bebidas em bares de discotecas, o que sobrava era o tempo desocupado.
O exílio era sedutor. Exílio, pois recuava nas palavras quando lhe falavam de emigração: era exílio, sim senhor, a fuga necessária para encontrar mantença. Adiava a resolução. E quando a interrogação angustiante “sair ou ficar” quadrava com o exílio que se antepunha atrás do sol poente, ainda o dedo segurava o cordel das raízes. Não sabia por quanto tempo. Por enquanto, e enquanto o exílio soubesse a capitulação, nem queria ouvir os interstícios do pensamento a repousar na ideia. 

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