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Mote: ladrão que rouba ladrão merece
cem anos de perdão (que se transformam em mil se o ladrão roubado for o
terrível neoliberalismo)
Ironias. Andou por aí, entre páginas
dos jornais, respeitáveis conferências onde só gente ilustre é convidada para keynote speaker, e debates na televisão,
um burlão que trazia atrás de si as credenciais das Nações Unidas, de que era
suposto consultor. E como as ideias que professava soavam como melodias a um
largo rebanho que se atira furiosamente contra o (também suposto – mas agora
sou eu a ajuizar) neoliberalismo que empobrece propositadamente as pessoas, o
senhor adejou umas breves semanas com aura de catedrático. Afinal era apenas um
burlão, mais um na terra dos Vale e Azevedo, de autarcas que enriquecem por
graça de magias não circenses e de dirigentes desportivos que são peritos na
adulteração da verdade desportiva.
Era matéria para um compêndio, saber
dos interstícios mentais que levam alguém a aparecer como algo que não é.
Gostava de travar conhecimento (mas deixo para quem saiba da poda) com os
corredores mentais desta gente, saber se vivem por dentro de uma mentira sem
dela darem conta, se estão doentes a ponto de considerarem que o resto do mundo
é uma mentira pegada, ou se não avaliam o risco de serem apanhados em contrapé
e devolvidos à risível figura que são depois de alguém os desmascarar. Ser
burlão de identidades (como este falso professor e consultor internacional de
prestígio foi) deve ser, imagino, como andar todos os dias com a corda à garganta
quando se é traficante de drogas, ou quando se anda foragido da justiça. Assim
como assim, quem não conhece mitómanos de si mesmo?
Mas é a ironia que me interessa. Fico
emocionado com as cambalhotas argumentativas dos efémeros cultores do burlão (antes
de ser acantonado a tal condição). É pena que lhe tenham tirado o palco e que
já não possa abraçar às ideias convenientes a autoridade intelectual dos cargos
que falsamente ostentava. Foi-se o burlão, mas mantêm-se certeiras as ideias
que vão contra o (outra vez suposto) “pensamento único” que contestam com tanto
fervor. À espera que saia da toca outro guru conveniente.
Saia um D. Sebastião para o canto
esquerdo da sala.
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