13.12.12

Tiros no pé


In http://www.pitacospoliticos.com.br/images/setembro/tiro.jpg
Era quase todos os dias. Como nas vezes em se chega a uma encruzilhada e o embaraço consome a lucidez. Quando metia a mão na alavanca das resoluções, sabia no instante a seguir que já não tinha remédio recuar; a tentativa ia dar para o torto.
Não aprendia com a procissão interminável de erros. Na vez seguinte, outra vez acossado pelo pensamento dividido em duas metades quase iguais, uma delas a pesar mais, mas no derradeiro instante metia as mãos na outra, desacertada, algibeira. Não demorava o ácido tempero da desfortuna. Lá atrás, sabia-se cultor dos arrependimentos. Um passo em falso, as dores das consequências e, catrapus, o pranto interior vertia arrependimentos em forma de consolo do nada. A madurez, ao menos, ensinara a inutilidade dos arrependimentos. Parecia-lhe, a deambulação por esta vida, um amontoado de precipitações. E, todavia, não havia ninguém mais lento a perfilhar decisões por entre dois hemisférios que se apartavam em logros compartimentados. “Talvez fosse isso” – suspirou, já a noite entrara na madrugada e a insónia dobrava o braço ao sono. “Talvez se as decisões fossem precipitadas, montadas em cima do joelho, sem dar conta das veias ardidas por temor das dores de parto de um engano, talvez não houvesse tantos tiros no pé.
Não havia atirador tão exímio. E tantas cicatrizes desmoldando a forma dos pés. Às tantas, o pensamento era devolvido às trevas. Só podiam contar instintos, as deliberações não podiam arrefecer em sua demora. Já que tantas doidices vieram de antanho e por causa do pensamento a rodos, pior não podia sobrar. A ideia derrotou a insónia. Repousou a cabeça na almofada. Um estranho sossego interior tomando conta de si. Era como nunca, aquela adivinhação de dissuadir tiros no pé.
Veio um último sobressalto: e se não conseguisse mudar o prumo? Ao menos tentara. Na pior das hipóteses, seria outro passo em falso. Pior já não podia ser.

Sem comentários: