Era quase todos os dias. Como nas vezes
em se chega a uma encruzilhada e o embaraço consome a lucidez. Quando metia a
mão na alavanca das resoluções, sabia no instante a seguir que já não tinha
remédio recuar; a tentativa ia dar para o torto.
Não aprendia com a procissão
interminável de erros. Na vez seguinte, outra vez acossado pelo pensamento
dividido em duas metades quase iguais, uma delas a pesar mais, mas no
derradeiro instante metia as mãos na outra, desacertada, algibeira. Não
demorava o ácido tempero da desfortuna. Lá atrás, sabia-se cultor dos
arrependimentos. Um passo em falso, as dores das consequências e, catrapus, o
pranto interior vertia arrependimentos em forma de consolo do nada. A madurez,
ao menos, ensinara a inutilidade dos arrependimentos. Parecia-lhe, a
deambulação por esta vida, um amontoado de precipitações. E, todavia, não havia
ninguém mais lento a perfilhar decisões por entre dois hemisférios que se
apartavam em logros compartimentados. “Talvez
fosse isso” – suspirou, já a noite entrara na madrugada e a insónia dobrava
o braço ao sono. “Talvez se as decisões
fossem precipitadas, montadas em cima do joelho, sem dar conta das veias
ardidas por temor das dores de parto de um engano, talvez não houvesse tantos
tiros no pé.”
Não havia atirador tão exímio. E tantas
cicatrizes desmoldando a forma dos pés. Às tantas, o pensamento era devolvido
às trevas. Só podiam contar instintos, as deliberações não podiam arrefecer em
sua demora. Já que tantas doidices vieram de antanho e por causa do pensamento
a rodos, pior não podia sobrar. A ideia derrotou a insónia. Repousou a cabeça
na almofada. Um estranho sossego interior tomando conta de si. Era como nunca,
aquela adivinhação de dissuadir tiros no pé.
Veio um último sobressalto: e se não
conseguisse mudar o prumo? Ao menos tentara. Na pior das hipóteses, seria outro
passo em falso. Pior já não podia ser.
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