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Estremecimento. Um abalo telúrico a
cindir-se com as nuvens que emprestavam escurecimento ao céu. As águas
orquestradas pela maré espelhavam os mesmos sedimentos de outrora. Uma pergunta
assomava entre a espuma das bravias águas do mar: as marés são uma antecâmara
de amanhãs, como se fossem um presságio assinado com o fermento de um outrora?
O estremecimento ecoava as ondas de
choque do terramoto interior. Podiam ser apenas os fusos horários do
entendimento desfeito em equívoco, e o entendimento já embaciado. A condizer
com o dia londrino, o nevoeiro perpetuando a escuridão pela manhã fora. Às
tantas, as interrogações que se sobrepunham esmagavam-se contra a porta férrea
onde estavam em sobressalto os pensamentos. Uma das interrogações, a mais
preciosa, desafiava a intrepidez do abalo telúrico que desapossara o mar chão. Era
a vez das ondas chegarem ao areal numa fúria avassaladora, fundindo-se nas rochas
erodidas.
A descompostura dos pensamentos
convocava serão em demanda de lucidez. E mesmo que soubesse que da errância
noturna não esboçava a intuição cobiçada, meteu os pés às ruas. Precisava de
alquebrar a febre que vinha do assalto das interrogações incessantes. Precisava
de estugar o passo nas ruas movimentadas, encontrar um promontório onde o
pensamento febril, sozinho, contemplasse as luzes que não adormeciam. A
embocadura do mar, onde outra maré que parecia repetitiva molhava as rochas e o
areal, seria o tribunal supremo. Podia ser que a maresia desatasse os nós que
pareciam amarrados por marinheiro experiente. Podia ser que a noite branca
resgatasse a claridade que andava a monte, turvada pelas nuvens pesadas que
sobressaiam no céu colonizado pela noite escura.
Entre os néon nada clarividentes e a
traficância noturna, as palavras embotadas na maré enfurecida dariam respostas.
Seriam respostas sem acerto, um caldo de ilusões em que marejavam os olhos das
tágides companheiras dos pensamentos amotinados. Mas nem isso interessava. Só a
fechadura de onde seriam devolvidas respostas. Já incensadas pela penumbra em
que se depunha a madrugada.
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