28.1.13

A conspiração dos porcos


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Nogueira, o líder do sindicato dos professores, fação comunista, acusou a GNR de ter retardado a passagem dos autocarros pejados de professores convocados para uma manifestação em Lisboa. Houvera um acidente na autoestrada com um camião de porcos. Os bichos ficaram espalhados na via, obstruindo-a. Intui-se a premeditação da polícia. O grau fica ao gosto do freguês: ou por inação, devendo ter removido os recos e o camião com especial zelo, pois havia manifestação convocada; ou por dolo, travando a viagem dos manifestantes para mais uma manifestação daquelas que levam três quartos das esquerdas a sentenciar a perda de legitimidade do governo (na rua).
Eu, se fosse aos camaradas do sindicato dos professores (e aos camaradas do partido que os comandam à distância), ia mais longe na elaboração do cenário. Diria que o condutor do camião, antigo combatente do ultramar que tem um cantinho em casa onde continua a deificar Salazar, se meteu à autoestrada com o camião sobrelotado de bácoros. Ele sabia que os professores filiados no sindicato comunista da casta tinham sido arregimentados para uma dessas irritantes manifestações de rua. O condutor do camião não conseguia meter travões às insónias de cada vez que na televisão passava o folclore das manifestações com cartazes e pregões que carregam um respeitável lastro de criatividade.
Já não longe de Lisboa, o motorista fez uma manobra brusca. O camião tombou sobre o lado esquerdo, soltando-se o freio da grade onde os porcos estavam acantonados. Uns pereceram esmagados sob o gradeamento torcido. A maioria soltou-se, passeando no asfalto da autoestrada, outros pastando erva no separador central, outros atravessando a via contrária em busca do pasto da berma oposta. O pandemónio.
O ministério da tutela devia processar o camionista que hipotecou o sucesso da manifestação. Foi um atentado contra os direitos dos trabalhadores, crime que devia ser punível com pena de prisão severa (caso o código penal fosse da lavra dos camaradas). E devia meter um processo disciplinar às chefias da brigada de trânsito, por não terem sido diligentes na remoção da bicharada. E mais: se não fosse possível capturar todos os futuros presuntos em tempo útil, a polícia devia abrir um corredor especial só para os autocarros dos professores ansiosos por peregrinarem na manifestação.
Isto é, está bem de ver, uma terrível conspiração dos porcos contra os trabalhadores oprimidos. Já se sabia que os opressores o eram. Porcos. 

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