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Nogueira, o líder do sindicato dos
professores, fação comunista, acusou a GNR de ter retardado a passagem dos
autocarros pejados de professores convocados para uma manifestação em Lisboa.
Houvera um acidente na autoestrada com um camião de porcos. Os bichos ficaram
espalhados na via, obstruindo-a. Intui-se a premeditação da polícia. O grau
fica ao gosto do freguês: ou por inação, devendo ter removido os recos e o
camião com especial zelo, pois havia manifestação convocada; ou por dolo, travando
a viagem dos manifestantes para mais uma manifestação daquelas que levam três
quartos das esquerdas a sentenciar a perda de legitimidade do governo (na rua).
Eu, se fosse aos camaradas do
sindicato dos professores (e aos camaradas do partido que os comandam à
distância), ia mais longe na elaboração do cenário. Diria que o condutor do
camião, antigo combatente do ultramar que tem um cantinho em casa onde continua
a deificar Salazar, se meteu à autoestrada com o camião sobrelotado de bácoros.
Ele sabia que os professores filiados no sindicato comunista da casta tinham
sido arregimentados para uma dessas irritantes manifestações de rua. O condutor
do camião não conseguia meter travões às insónias de cada vez que na televisão
passava o folclore das manifestações com cartazes e pregões que carregam um
respeitável lastro de criatividade.
Já não longe de Lisboa, o motorista
fez uma manobra brusca. O camião tombou sobre o lado esquerdo, soltando-se o
freio da grade onde os porcos estavam acantonados. Uns pereceram esmagados sob
o gradeamento torcido. A maioria soltou-se, passeando no asfalto da
autoestrada, outros pastando erva no separador central, outros atravessando a
via contrária em busca do pasto da berma oposta. O pandemónio.
O ministério da tutela devia
processar o camionista que hipotecou o sucesso da manifestação. Foi um atentado
contra os direitos dos trabalhadores, crime que devia ser punível com pena de
prisão severa (caso o código penal fosse da lavra dos camaradas). E devia meter
um processo disciplinar às chefias da brigada de trânsito, por não terem sido
diligentes na remoção da bicharada. E mais: se não fosse possível capturar
todos os futuros presuntos em tempo útil, a polícia devia abrir um corredor
especial só para os autocarros dos professores ansiosos por peregrinarem na
manifestação.
Isto é, está bem de ver, uma terrível
conspiração dos porcos contra os trabalhadores oprimidos. Já se sabia que os
opressores o eram. Porcos.
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