1.1.13

A valsa dos historiadores


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Ontem, no Público, o historiador Luís Reis Torgal puxou lustro à fina ironia e desmontou uma crónica de Miguel Esteves Cardoso (MEC). Nesta crónica, MEC cometeu o intolerável pecado da opinião: disse que não gostou dos argumentos de Torgal e de dois outros historiadores (Loff e Rosas). E deu a entender que eram de esquerda, manifestando-o com menosprezo.
Neste pedaço de terra em que as esquerdas tutelam os bons gostos e os costumes e trazem a tiracolo a superioridade moral, MEC cometeu crime passível de lapidação em praça pública. O instrutor do processo foi Torgal. Usando prosa sarcástica, naquele sarcasmo só ao alcance dos que se acham penhores de uma erudição imbatível, mandou MEC perorar sobre as coisas mundanas que habitualmente são tema das suas crónicas. O historiador catedrático (ou o catedrático historiador) mandou dizer, por palavras meias (que gente assim não tem coragem de escrever as palavras todas), que se MEC não sabe de história deve-se abster de meter o bedelho em discussão para a qual não foi convocado.
O mal é quando a ironia tropeça nas suas próprias ironias. Historiadores amigos de Torgal (por exemplo, os citados Loff e Rosas; mas há mais, anónimos e pouco significantes) montam-se num (suposto) inquestionável saber alimentado pela cátedra e opinam sobre o que aparecer pela frente, desde a atualidade genérica até outras ciências que saem da sua particular e pequena quinta gnosiológica. Cavalgam uma autoridade intelectual imune a contestação, que o contraditório soa a topete quando alguém ensaia uma defenestração das ideias de tamanhas sumidades.
Ponto de ordem: os historiadores sabem de tudo e mais alguma coisa, mais até que os supostos especialistas dos saberes que não são os dos historiadores e que os desmentem esgrimindo factos. Factos, em vez da subjetividade das ideias, que aí a discussão deve ser descomprometida. Mas ai de quem, não sendo historiador, se atreva a fazer opinião sobre uma querela que envolve historiadores, um naco da história e leituras enviesadas pela excitação da militância ideológica. Pois só aos historiadores é admissível discutir história.
Sem meias palavras, que prefiro usar as palavras na sua totalidade: estas divindades intelectuais metem-me asco.

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