In https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYWeWGGPyj9wlfZvqXQ7womBGJCNEOTrcMDswlvZvRNz66fEZ3zJIwNRi5MIEGLg7DElabA2Q5udPm5vBnDhN9v_3Qh6n9o6MOtPJEcBmVw3zUThILmIhUlcf3eft3LuMwcLf26g/s320/bump.jpg
Os amigos tinham uma barrigada de
riso à custa do Ruço. O rapaz, desassisado como ninguém, fartava-se de asnear.
Não o fazia de propósito. Era genético, como se os progenitores tivessem, por má
arte, metido uns genes imprudentes no ADN do pequeno. Os amigos, estarolas e sempre
à espera de desastres que desatassem o riso desbragado, nas folgas dos
disparates traziam à colação façanhas anteriores que, mesmo à distância das
recordações, faziam chorar de tanta gargalhada junta. E o pequeno e desajeitado
Ruço ficava ali, impávido e enrubescido, em pose de testemunha involuntária das
suas proezas pouco recomendáveis que eram razão de sobra para os estroinas se
aliviarem das angústias pós-adolescentes.
Lembravam-se do Ruço a bater com as
fuças no chão enlameado, naquele dia que foram andar de bicicleta para a pista
de motocrosse. Ou de como ele ficou com as calças todas molhadas, na zona que
desce dos genitais para os joelhos, e não fora razão outra que fosse terem-se
libertado as águas, quando por fim uma moçoila se prontificou a livrá-lo do
estado virginal em que repousava desde a nascença – e como a efeméride ficaria
adiada para segundas núpcias, que não foram do conhecimento dos amigos que
patrocinaram a ocasião falhada. Ou de outra vez, quando teimaram em dissolver a
letargia das longas férias com partidas variadas (uns exemplos: tocar às
campainhas e fugir a sete pés, molhar homens engravatados com cerveja em lata
previamente agitada para toda a espuma se soltar na hora certa, pintar os para-brisas
de carros pimpões com batom feminino fartamente rubro, colocar cubos de gelo
debaixo do avantajado rabo de senhoras gordas no exato instante que antecedia o
assentamento no banco do autocarro, ou travar o carro como quem promete boleia
a quem a pedia na noite avançada e logo avançar uns metros quando o transeunte quase
metia a mão na porta do carro).
Numa dessas partidas, estavam os da
vida airada a distribuir chapadas pelos passageiros do comboio de longa
distância que abalava do cais, quando notaram nuns ciganos que iam em sua
direção para tirar desforço. O pobre Ruço, distraído como sempre, ficou aos
pulos a ensaiar a próxima bofetada. Empolgado, nem deu conta da chegada dos
ciganos que o puxaram pelos colarinhos e assentaram um arraial de porrada que
deu direito a visita ao hospital.
Um dia, embebedaram o Ruço. Assim
como assim, se o rapaz em sua sobriedade era um desastre pegado, haveria de ser
bonito vê-lo com meia dúzia de canecos a turvarem os sentidos. Enganaram-se. O Ruço
portou-se com fleuma digna de um lorde inglês. Não acusou, a quem o via de
fora, um grama de álcool no sangue. Os amigos ficaram atónitos. E o Ruço
aprendeu que, quando viesse o futuro e ele não quisesse ficar mal no retrato,
trataria de beber uns copos. Já não era o Ruço desastrado que fizera as
delícias dos amigos com outra linhagem estouvada.
O que ele não contava, era ter de
frequentar os alcoólicos anónimos.
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