16.1.13

Aviso à navegação: os unicórnios não existem


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Está instalada a revolta (pelo menos nos sonhos de uns quantos): o FMI, essa organização malévola, que existe para empobrecer os países onde foi convidado a atuar, tomou contou das rédeas da portugalidade em forma de soberania. A julgar pelo tom exaltado, por alguns nacos de prosa exacerbada, e pelas categóricas certezas destiladas por gente que não faz a menor ideia dos conceitos que utiliza, lá se foi a soberania porque fomos ocupados pelo FMI. Como a democratização da opinião, em forma de redes sociais e quejandos, é ingrediente do quotidiano, há muita gente a protestar o ultraje contra a ocupação do FMI.
Primeiro: estão a ser injustos com a UE. Pois se a UE tem uma quota de dois terços do dinheiro que nos emprestaram (entre outros fins, para pagar salários a funcionários públicos), apontar o dedo ao FMI é sintoma de uma destas patologias: ou ignoram a existência da UE, e há que dizer que provavelmente a UE se põe a jeito; ou acham que, apesar de estar em posição minoritária, o FMI ficou maestro da situação depois de hipnotizar a UE.
Segundo: até alguém tão ufano da pose de estadista (o presidente do tribunal de contas) se esqueceu de tomar os comprimidos pela manhã, pois à tarde veio para os jornais avisar que a política económica não pode ser feita por “economistas convidados”. Sem dar conta da distração, o presidente do tribunal de contas pôs o dedo na ferida: estamos sob intervenção externa, que foi pedida por partidos que representam quase 90% do eleitorado (até novas eleições). Nós é que pedimos ajuda. E quem ajuda impõe condições. Era o que mais faltava uma pessoa viciada em bebida, ao submeter-se ao programa de desintoxicação, admitir que lhe tirem todas as bebidas menos o gin e o uísque.
Terceiro: para quem tem tanta facilidade em empregar a palavra “soberania”, para enfatizar como ela está moribunda por causa da “ocupação” pelo FMI, o parágrafo anterior é resposta suficiente. Quem pediu a ajuda fomos nós. Daí a ajuizar que o FMI nos obrigou a capitular a soberania, vai um tremendo exagero e uma dose de notória ignorância. Já que falamos dos danos na soberania nacional (de que as esquerdas radicais, de modo insólito, são as principais defensoras), há que pôr as cartas em cima da mesa: se já perderam a virgindade, que expliquem como a podem recuperar.

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