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Está instalada a revolta (pelo menos
nos sonhos de uns quantos): o FMI, essa organização malévola, que existe para
empobrecer os países onde foi convidado a atuar, tomou contou das rédeas da
portugalidade em forma de soberania. A julgar pelo tom exaltado, por alguns
nacos de prosa exacerbada, e pelas categóricas certezas destiladas por gente
que não faz a menor ideia dos conceitos que utiliza, lá se foi a soberania
porque fomos ocupados pelo FMI. Como a democratização da opinião, em forma de
redes sociais e quejandos, é ingrediente do quotidiano, há muita gente a
protestar o ultraje contra a ocupação do FMI.
Primeiro: estão a ser injustos com a
UE. Pois se a UE tem uma quota de dois terços do dinheiro que nos emprestaram (entre
outros fins, para pagar salários a funcionários públicos), apontar o dedo ao
FMI é sintoma de uma destas patologias: ou ignoram a existência da UE, e há que
dizer que provavelmente a UE se põe a jeito; ou acham que, apesar de estar em
posição minoritária, o FMI ficou maestro da situação depois de hipnotizar a UE.
Segundo: até alguém tão ufano da pose
de estadista (o presidente do tribunal de contas) se esqueceu de tomar os
comprimidos pela manhã, pois à tarde veio para os jornais avisar que a política
económica não pode ser feita por “economistas convidados”. Sem dar conta da
distração, o presidente do tribunal de contas pôs o dedo na ferida: estamos sob
intervenção externa, que foi pedida por partidos que representam quase 90% do
eleitorado (até novas eleições). Nós é que pedimos ajuda. E quem ajuda impõe
condições. Era o que mais faltava uma pessoa viciada em bebida, ao submeter-se
ao programa de desintoxicação, admitir que lhe tirem todas as bebidas menos o
gin e o uísque.
Terceiro: para quem tem tanta
facilidade em empregar a palavra “soberania”, para enfatizar como ela está
moribunda por causa da “ocupação” pelo FMI, o parágrafo anterior é resposta
suficiente. Quem pediu a ajuda fomos nós. Daí a ajuizar que o FMI nos obrigou a
capitular a soberania, vai um tremendo exagero e uma dose de notória
ignorância. Já que falamos dos danos na soberania nacional (de que as esquerdas
radicais, de modo insólito, são as principais defensoras), há que pôr as cartas
em cima da mesa: se já perderam a virgindade, que expliquem como a podem
recuperar.
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