3.1.13

Os decanos não se contrariam


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A pose altiva, a palavra pausada que soletrava a doutrina que os mais novos, em pose de aprendiz, deviam beber. Os decanos podiam nada acrescentar ao conhecimento desde que embarcaram na nau da preguiça, por conta do estatuto que a si chamaram. Podiam ser enfadonhos oradores de uma teoria datada, como se entretanto o tempo não tivesse farpelas novas e outros, mais novos e abertos a novos saberes, tivessem questionado os tabus de outrora. Podiam os mais novos ousar na ciência desassombrada, tecer pontes entre diferentes saberes; podiam alguns deles ter reconhecimento lá fora. Nada servia para beliscar a autoridade dos decanos, mesmo que dessem conta do cheiro a bafio que sobrava das suas togas encardidas.
Queriam discípulos como se fossem vassalos, gente acrítica, ou gente covarde que silenciava a discordância só para ir comer à mesa das prebendas decididas pelos decanos. Aos mais novos desculpava-se, que estavam em começo de vida e entre ser mais um num rebanho ordeiro e ir parar às obras, as opções eram curtas. Mas havia-os já a caminho da madura idade sem que tivessem rompido com o atonia adquirida. Aquilo funcionava como um sistema de castas, as diferentes camadas sobrepondo-se umas às outras em níveis de autoridade, da autoridade que não admitia contestação se viesse de gente de castas inferiores. No vértice da pirâmide, os eruditos decanos precisando de diárias genuflexões dos delfins e discípulos, escrevendo páginas ocas de doutrina desatualizada.
Os poucos episódios de rebeldia terminaram com purgas dos dementes que não babujaram a condição imperial de um decano. Eram processos soezes, desqualificação pessoal metida pelo meio, apoucando a rês desalinhada até que, humilhada, saísse pelo seu pé. As ideias seladas eram património inamovível. Ai de quem contestasse pressupostos, raciocínios, conclusões. A discussão não passava de um embrião. Um dos decanos mostrava as medalhas da antiguidade, decretando, de dedo em riste, que a antiguidade é um posto.
Quase todos os discípulos se metiam dentro do seu corpo, envergonhados. Alguns pensavam, sem todavia o apregoarem, “a envelhecer assim, arcano e arrogante, antes mudar de função.” 

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