15.1.13

Às mãos


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As mãos são o ouro onde repousam os sentidos. Às mãos devolvemos o suor que gastámos. As gotas condensam-se numa maresia que habita nas estradas das mãos. Das mãos que se entrelaçam. E nesse entrelaçar removem biombos. Os dedos tacteiam os corpos, traçam suas bissectrizes, são arquitetos de uma quimera que encontra o seu lugar. Percorrendo as curvaturas dos corpos, os dedos demandam um amplexo de emoções. Por mais palavras a que o lustro seja puxado, por mais copiosa a verve do poeta, faltam as palavras para retratar as intangíveis emoções que se bebem no sudário de onde soerguem as pétalas marejadas pelos corpos.
Nas mãos gravitam as pujantes rodas da vida. Perante elas arqueiam-se os indomáveis instintos, diminuídos a dóceis figurantes. As mãos são um santuário onde nos depositamos, integrais. Nas mãos compomos coreografias invisíveis onde mapeamos o porvir, onde damos guarida às notas dispersas de uma partitura que estivera desarranjada. No tesouro das mãos, com o sal que não arde e o fogo que não agita, resguardamos faróis que alquebram a penumbra. Deixamos que as mãos sejam guias, desembaciando o chão aveludado escondido nas trevas. As mãos abrem o caminho, devolvem as trevas aos dias de antanho.
Descobrimos as linhas que compõem as mãos. Cada ruga, cada osso fundido na carne que afagamos, o calor exalado pelas mãos que mergulham numa fogueira com incensos feiticeiros. As mãos são como uns olhos. Dir-se-ia que podemos ver através das mãos – e por isso elas são guias, singulares guias. E nas mãos nos entregamos aos odores, às mãos consagramos sabores sumptuosos. Se as encerrarmos em forma de concha, até conseguimos ouvir os sussurros que segredam a matéria valiosa que pende das mãos.
Assim nos entregamos às mãos abraçadas. E sabemos que elas são o penhor dos amanhãs que são nossa pertença. 

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