In https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2NrkTUG1lzhqnGXDuqv5t5GQNysBTVf0My7o3RaKeT7ACHaE1y1mqTVtMllKJd1B2ehGk6zwEBVubbM6TsdJ5lBHCRu2ohfOankPjZGrk1QfBhqRfyjoct-ekJqLINzeXzfR1jQ/s1600/holding+hands.jpg
As mãos são o ouro onde repousam os
sentidos. Às mãos devolvemos o suor que gastámos. As gotas condensam-se numa
maresia que habita nas estradas das mãos. Das mãos que se entrelaçam. E nesse
entrelaçar removem biombos. Os dedos tacteiam os corpos, traçam suas
bissectrizes, são arquitetos de uma quimera que encontra o seu lugar. Percorrendo
as curvaturas dos corpos, os dedos demandam um amplexo de emoções. Por mais
palavras a que o lustro seja puxado, por mais copiosa a verve do poeta, faltam
as palavras para retratar as intangíveis emoções que se bebem no sudário de
onde soerguem as pétalas marejadas pelos corpos.
Nas mãos gravitam as pujantes rodas
da vida. Perante elas arqueiam-se os indomáveis instintos, diminuídos a dóceis
figurantes. As mãos são um santuário onde nos depositamos, integrais. Nas mãos
compomos coreografias invisíveis onde mapeamos o porvir, onde damos guarida às
notas dispersas de uma partitura que estivera desarranjada. No tesouro das
mãos, com o sal que não arde e o fogo que não agita, resguardamos faróis que alquebram
a penumbra. Deixamos que as mãos sejam guias, desembaciando o chão aveludado
escondido nas trevas. As mãos abrem o caminho, devolvem as trevas aos dias de
antanho.
Descobrimos as linhas que compõem as
mãos. Cada ruga, cada osso fundido na carne que afagamos, o calor exalado pelas
mãos que mergulham numa fogueira com incensos feiticeiros. As mãos são como uns
olhos. Dir-se-ia que podemos ver através das mãos – e por isso elas são guias,
singulares guias. E nas mãos nos entregamos aos odores, às mãos consagramos
sabores sumptuosos. Se as encerrarmos em forma de concha, até conseguimos ouvir
os sussurros que segredam a matéria valiosa que pende das mãos.
Assim nos entregamos às mãos abraçadas.
E sabemos que elas são o penhor dos amanhãs que são nossa pertença.
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