30.1.13

O homem que mudou tantas vezes de nacionalidade que já não sabia onde pertencia


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(Mote: Tina Turner vai ser suíça)
Nasceu em Madrid. O pai era turco e a mãe búlgara. Os avós dividiam-se por outras tantas origens pátrias (Cazaquistão, Macedónia – antes de serem terras independentes –, Bolívia e Itália). Aos seis anos, os pais emalaram os pertences e foram experimentar a vida na Argentina. Começou a universidade no Brasil e acabou-a no Canadá. Quando concluiu os estudos, viajara como poucos: contava para cima de cem os carimbos de diferentes países estampados no passaporte. Que ostentava com orgulho. Tinha perdido a conta dos amigos que fizera, tantas as terras visitadas, tantas as culturas em que se banhara.
Por alturas em que começou a trabalhar já não se sentia espanhol. O passaporte era-o. Mas também tinha um passaporte argentino e um canadiano (mercê do primeiro trabalho em Vancouver). Era o início da romaria das nacionalidades. Ao fim de uns meses fizeram uma oferta de trabalho irrecusável e mudou-se para a Noruega. Homem de paixões fulminantes (paixões por tudo o que atraísse o seu interesse), casou-se ao cabo de uma paixão dessas. Por matrimónio, passou também a ser norueguês. Tal como as paixões o tocavam à flor da pele, depressa ficavam inermes. Com o primeiro divórcio veio a partida para o Japão. Onde se casou uns anos depois, adicionando mais uma nacionalidade ao rol.
Os afazeres profissionais levaram-no a visitar quase todos os países do mundo. E a espalhar o charme que arrebatava mulheres indígenas com um punhado de galanteios. O nomadismo e o reboliço interior fermentaram uma coleção de casamentos (precedidos dos exigíveis divórcios). O homem colecionava consortes, todas de diferentes pátrias. Só por casamento adicionou nove nacionalidades diferentes. Se havia alguém que podia convocar as credenciais de cidadão do mundo, era ele.
Às vezes perguntavam-lhe se entre a amálgama de nacionalidades tinha uma preferida. Ou se, por entre todas elas, uma tinha proeminência espontânea. Fazia sempre um silêncio cerrado e punha o pensamento distante, como se se ausentasse do lugar. E respondia: “eu pertenço a todos estes lugares. Tem dias em que me sinto mais argentino, outros em que me acho canadiano, outros libanês, outros moçambicano – e por aí fora. Tem dias em que me sinto de uma nacionalidade que eu não tenho, só por evocação de um país onde estive. Se calhar não tenho pertença. E sou livre por isso mesmo. Como o não são aqueles que se dizem pátrios de um lugar qualquer.

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