In http://www.portugalnoseumelhor.com/wp-content/uploads/2005/04/patriotismo_motorizado2-360x270.jpg
“(...) Ó Portugal, se fosses só três sílabas
de plástico, que era mais barato!
(...) Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo,
(...) meu remorso
meu remorso de todos nós.”
Alexandre O’Neill, “Portugal”, in Feira Cabisbaixa (1965)
Já não é como dantes. Quando havia
ditadura e era preciso formatar as cabecinhas desde tenra idade, nos bancos da
escola. Mas as coisas velhas readquirem outra vivacidade, com novos formatos e
novas cores, assim que os tempos andam e as ideias do outro tempo se fazem
velhas e cedem o passo a ideias novas. Que, todavia, não têm diferentes
pergaminhos quando se revistam os métodos comezinhos e os surpreendentes atores
que puxam os galões a antiquados conceitos.
O patriotismo volta a estar na moda.
Agora tem outros curadores: sindicatos comunistas, partidos da extrema-esquerda
(que eram tão hostis ao patriotismo), ambientalistas engajados, produtores
nacionais que mendigam a mão protetora do Estado (sem saberem que estão numa
Europa sem fronteiras), gente que acordou tarde para a realidade e chora
lágrimas abundantes pela soberania que teremos perdido agora que uma troika alienígena comanda as políticas
(como se já dantes a soberania não tivesse sido reconfigurada). O patriotismo é
o novo sebastianismo, a argamassa necessária para que sejamos rebeldes da ordem
instalada.
E o que é o patriotismo? Como se
ensinaria nas escolas, caso os descontentes fossem chamados ao poder e
doutrinassem, por decreto, as criancinhas? Diriam coisas banais, coisas já
divulgadas pela direita conservadora que dantes brandia o patriotismo e pegava
nos cacos da história para avivar o orgulho pátrio. E o que é o patriotismo
(afinal)? O galo de Barcelos, os feitos dos desportistas lá fora, uma suposta
identidade nacional (como se todos tivéssemos de louvar folclore minhoto,
sarrabulho, tripas à moda do Porto, pezinhos de coentrada, preces aos
pastorinhos de Fátima, areias e o sol e a água cálida do Algarve – e o mais que
se possa arregimentar)?
O patriotismo é uma entorse à
liberdade. É um dever, indeclinável. É tido por mal quem disser, sem disfarce,
que não é patriota. Mas a pátria calha em sorte, ou em azar. Uns resignam-se: assim
como assim, é o lugar do nascimento. Logo, o imperativo acéfalo de alardear a
pátria que vem no passaporte. Eu prefiro a mordacidade de O’Neill. Não escolhi
ser daqui. Nada nem ninguém coage um patriotismo que me é corpo estranho.
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