In https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJX6-OVLhnPNjc8EbBU7rDJ_IZxSe4sZEgCYFA8lCIyoJ4lNdGmLt1EIu0zFSSPf0JRR2QyZO8FXE0Z_grrUOnUXW8U8NALrVUX-k6MoUFwhwi5TS_f-jQ0g-x_YaJVGOWJXu7/s1600/divida2.png
Deviam ser explicadas às criancinhas,
logo nas escolas (pois assim como assim, ele há tanto pedagogo visionário que
jura outras virtudes – as do ensino da cidadania, por exemplo). As virtudes da
dívida deviam ser explicadas. Da dívida toda. Da pública, assumida pelos
governantes em nome dos que a pagam através de impostos. E, por arrastamento,
da dívida que, a bom exemplo do Estado, contratamos junto dos bancos.
Não temos dinheiro, mas isso não deve
ser travão ao consumo e ao investimento em bens duradouros. O dinheiro que
conta não é o que trazemos no bolso. É o que os bancos emprestam. Até porque os
bancos têm de fazer pela vida. Se não nos empenhássemos até ao pescoço, lá
podiam os bancos deitar a mão aos lucros obtidos com as nossas dívidas? E se o
Estado anda à míngua, e um escol de dirigentes teima em selar o seu nome para a
posteridade em forma de obra pública, metam-se as máquinas às obras e a dívida
a lamber números astronómicos. Que há sempre alguém que nos empresta, nem
tenhamos de pagar juros mais caros. A maior virtude da dívida não é fazer obra
que sem o dinheiro vivo dos novos ricos não havia como empreender. A dívida é
virtuosa na exata medida da transferência de recursos dos devedores para os
credores. Sendo os primeiros os mais abastados, saia um audível e demorado
aplauso a esta nobre redistribuição de rendimentos.
Andam por aí uns lunáticos a protestar
contra os juros usurários dos empréstimos. Depende da perspetiva. Quando alguém
de duvidosos pergaminhos nos pede dinheiro emprestado, ou declinamos o convite
ou nos protegemos contra o risco do não pagamento – isto é, cobramos juros mais
altos. Depois funciona o pregão “é pegar ou largar”. Os endividados estão tão
viciados na dívida que acabam por pegar (e pagar). Não são juros usurários. São
as regras de um jogo que o devedor aceitou jogar e que ele alimenta com o seu
vício. Quanto mais jogar, note-se, mais contribui para o enriquecimento de quem
emprestou dinheiro.
Gente mais cínica poderia dizer que
não importa meter tento (e teto) na dívida. Mais tarde ou mais cedo, os
credores vão perdoar a dívida, ou aceitar juros mais baixos, ou esticar o prazo
de pagamento. Mas não se espere que quem deixa de pagar o que deve (ou force os
credores ao perdão da dívida) possa continuar viciado em dívida. Afinal, a
dívida tem mesmo uma virtude (se for esta).
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