Merecemos a alquimia que nos transborda. Se, num acaso, biombos surgem como sombras frontispícias, embaciando o sortilégio que nos calhou em regaço, pegamos em punhais e não hesitamos em feri-los de morte.
Dizem que não podemos nada contra os
sonhos que espigam numa amálgama viscosa mas pueril (como pueris são os
sonhos). Numa amálgama que deforma as paisagens frondosas que arrebatam os
sentidos. O diagnóstico erra por excesso. Somos os mandantes dos sonhos que ora
nos aformoseiam o sono, ora o desassossegam com inquietantes pinceladas de um
cenário que não queremos nosso. Temos uma carta na manga. Mal sentimos os
sussurros lívidos de um sonho amotinador, viramos os olhos do avesso, pegamos
na esquadria do sonho e fazemos-lhe o pino contrariado. O sonho fica em apneia,
o sangue já não irrigando a matriz cerebral que se preparava para afear o palco
onde passeava o sono plácido. Pegamos no sono e damos umas palmatoadas severas,
vamos aos colarinhos e apertamos os dedos fortes em volta do pescoço até o
sonho se esvair no seu ocaso.
Mal o vejamos prostrado, não convém o
desleixo do triunfo extemporâneo, que ele tem sete foles e pode ressuscitar com
vigor enfurecido. Ficamos vigilantes, sem nos atemorizarmos pelo sono tanto.
Com um varapau na mão, não vá o sonho mau esboçar sobrevivência. Demoramos na
vigilância o tempo que for preciso. Nem que já não haja mais sono por rastrear
naquela noite, mercê da alvorada que espreita por entre a penumbra desmaiada.
Antes uma noite mal amanhada por sono ausente, que por teimoso e malévolo sonho
pespegado nas entranhas.
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