In https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQfkyTTzHX-lz4D_rKl7N19lMyoqjQA4V6OcbyksDbqq_ncOp7wNOHtYxk_nMcH4XkPF9HjObJUevqEwBN3T3bnGpL6qnIkaf9J3_c9zFu77rt-RVqgkz1OMJBMDAOdvW6Mw/s1600/Flores103.jpg
(Depois de “Rozencrantz e
Guildenstern”, de Tom Stoppard)
Não. Não é possível que eu
morra. Não estarei cá para ir ao meu próprio funeral.
E a morte, interessa?
Parafraseia-se Shakespeare: a morte é uma arrelia por causa da eternidade. Os
religiosos, os que acreditam num deus qualquer, os que adormecem serenos ao
saberem que no derradeiro encerrar de olhos têm a eternidade abonada, olham de
frente para a morte. E se a eternidade for um longo bocejo, nós despidos do
corpo, agarrados a uma promessa de imaterialidade que não podemos experimentar
na vida que sabemos ser?
Uma ideia entranha-se em seu desassossego:
o nosso funeral é o único a que não podemos ir. E o que dirão de ti no dia do
funeral em que tu, já féretro e encerrado no caixão, não tens os sentidos em
ebulição? Dirão, como é de bom tom recordar quando um mortal assume a sua mortal
condição, que teve uma existência exemplar, o cortejo de predicados invejáveis,
com gente a desfazer-se em lágrimas pela perda que a tua partida representa
para a humanidade. Aos mais narcísicos é que custará saber que não podem ser
testemunhas do sua cerimónia fúnebre. Seria um dia triunfal, só que o narciso
terá partido com a definitividade do último sopro.
A morte é um não assunto.
Incómoda, mete a foice fria na carne que adormece, já decadente. Mas a morte é
o lugar prometido onde se extingue a perenidade. A existência é efémera só o é
para os que não se incomodam com a eternidade prometida para depois da
existência. E a eternidade deve ser uma maçada sem comparação. A morte, quando
vier, virá em seu devido tempo. Dizem os costumes que os que abalam novos ainda
são credores de vida que lhes foi subtraída a destempo. E de que serve o
apontamento de injustiça? A morte, quando vier, vem em seu devido tempo. Do
resto tratam os caprichos da grande roda da vida que, entre em lotarias
intermináveis, seleciona os escolhidos.
E que dirias do que dirão os
que estiverem em prantos interiores diante do teu corpo finado? Que exageram
nos panegíricos.
Sem comentários:
Enviar um comentário