29.4.13

Ácido sulfúrico


In http://web.ccead.puc-rio.br/condigital/mvsl/museu%20virtual/curiosidades%20e%20descobertas/Estudo_reacoes/img/acido_sulfurico.jpg
Depende da perspectiva: ora podemos ser sapientes, quando temos opiniões que são música para os ouvidos das pessoas corretas; ou depressa passamos a gente apedeuta, embebida em maus instintos, com uma propensão irrecusável para estar do lado errado da contenda. Nós, o “povo”. Também pode dar-se o caso de um politólogo respeitável perder a sua respeitabilidade enquanto alinhava opinião que se perde nos maus caminhos da parcialidade (quando essa parcialidade arranha os ouvidos das pessoas corretas). Às tantas, os dois exemplos servem-se reciprocamente.
Os islandeses voltaram a confiar nos partidos que não souberam prevenir a crise financeira que quase levou o país à bancarrota em 2008. Isto pode ter duas lentes possíveis. Vai começar a do politólogo respeitável que faz os possíveis para não se desligar da imparcialidade, que os cânones da profissão assim mandam. É a democracia virada do avesso pelos seus paroxismos – diria, erudito, o politólogo respeitável (logo mandando a turba ao dicionário ver o significado da palavra “paroxismo”). Ao politólogo respeitável, se ainda tivesse audiência depois de usar a palavra “paroxismo”, não interessa explicar como pode a maioria de um povo esquecer-se da expiação coletiva que o levou a esconjurar os partidos que, diziam fontes insuspeitas, foram responsáveis (por causa da inércia) da quase bancarrota da Islândia. O politólogo respeitável deve assumir modos pedagógicos, ensinando aos mais incrédulos, os que ficaram boquiabertos com a mudança de vontade da maioria dos eleitores na Islândia, que os resultados das eleições não se questionam, aceitam-se.
Mas há também o observador despido das peias da imparcialidade. Aquele que apetece dar de provar a esquerdistas convencidos da suas imperativas certezas algum do veneno que destilam sobre quem com eles não alinha. Este observador não deixa de anotar a ironia. Os islandeses eram os novos heróis dos movimentos desencantados com o andar das coisas. Eram a nova esperança de onde haveriam de soprar ventos gentios para que o hediondo mundo dominado por manadas de capitalistas e financeiros desapiedados desaparecesse do mapa. Os islandeses aceitaram condenar banqueiros em tribunal, negaram (em referendo) pagar empréstimos que tinham salvo a Islândia da bancarrota, quase conseguiram meter um antigo primeiro-ministro na cadeia (safou-se no julgamento) e, nas eleições de 2009, varreram os partidos de centro-direita para a cura de oposição. Quatro anos. O tempo suficiente para a maioria dos islandeses se cansar da esquerda folclórica que depressa roçou a desesperança. A maioria dos islandeses voltou para o inferno: escolheram o mesmo centro-direita criminoso para tomar o leme do poder.
A memória será curta. Ou a ironia do destino falará mais alto. Admito que o povo que há uns meses era herói, agora seja uma besta. E admito que muitos esquerdistas convencidos que são curadores da tolerância (mas só da que lhes apraz) mandariam, acaso pudessem, ácido sulfúrico para cima de cada islandês que votou nos partidos do centro-direita.

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