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Depende da perspectiva: ora podemos ser sapientes, quando temos opiniões
que são música para os ouvidos das pessoas corretas; ou depressa passamos a gente
apedeuta, embebida em maus instintos, com uma propensão irrecusável para estar
do lado errado da contenda. Nós, o “povo”. Também pode dar-se o caso de um
politólogo respeitável perder a sua respeitabilidade enquanto alinhava opinião
que se perde nos maus caminhos da parcialidade (quando essa parcialidade
arranha os ouvidos das pessoas corretas). Às tantas, os dois exemplos servem-se
reciprocamente.
Os islandeses voltaram a confiar nos partidos que não souberam prevenir a
crise financeira que quase levou o país à bancarrota em 2008. Isto pode ter
duas lentes possíveis. Vai começar a do politólogo respeitável que faz os
possíveis para não se desligar da imparcialidade, que os cânones da profissão assim
mandam. É a democracia virada do avesso pelos seus paroxismos – diria, erudito,
o politólogo respeitável (logo mandando a turba ao dicionário ver o significado
da palavra “paroxismo”). Ao politólogo respeitável, se ainda tivesse audiência
depois de usar a palavra “paroxismo”, não interessa explicar como pode a
maioria de um povo esquecer-se da expiação coletiva que o levou a esconjurar os
partidos que, diziam fontes insuspeitas, foram responsáveis (por causa da
inércia) da quase bancarrota da Islândia. O politólogo respeitável deve assumir
modos pedagógicos, ensinando aos mais incrédulos, os que ficaram boquiabertos
com a mudança de vontade da maioria dos eleitores na Islândia, que os
resultados das eleições não se questionam, aceitam-se.
Mas há também o observador despido das peias da imparcialidade. Aquele
que apetece dar de provar a esquerdistas convencidos da suas imperativas
certezas algum do veneno que destilam sobre quem com eles não alinha. Este
observador não deixa de anotar a ironia. Os islandeses eram os novos heróis dos
movimentos desencantados com o andar das coisas. Eram a nova esperança de onde
haveriam de soprar ventos gentios para que o hediondo mundo dominado por
manadas de capitalistas e financeiros desapiedados desaparecesse do mapa. Os
islandeses aceitaram condenar banqueiros em tribunal, negaram (em referendo)
pagar empréstimos que tinham salvo a Islândia da bancarrota, quase conseguiram
meter um antigo primeiro-ministro na cadeia (safou-se no julgamento) e, nas
eleições de 2009, varreram os partidos de centro-direita para a cura de
oposição. Quatro anos. O tempo suficiente para a maioria dos islandeses se
cansar da esquerda folclórica que depressa roçou a desesperança. A maioria dos
islandeses voltou para o inferno: escolheram o mesmo centro-direita criminoso
para tomar o leme do poder.
A
memória será curta. Ou a ironia do destino falará mais alto. Admito que o povo
que há uns meses era herói, agora seja uma besta. E admito que muitos esquerdistas
convencidos que são curadores da tolerância (mas só da que lhes apraz)
mandariam, acaso pudessem, ácido sulfúrico para cima de cada islandês que votou
nos partidos do centro-direita.
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