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Só dera conta uns dias
depois: fizera um ano de marinha mercante. Não viera à terra-mãe, nem nas
férias que a lei mandava gozar. Dobrou o nomadismo ao pôr o pé em terras tão
diferentes e longínquas umas das outras. O esquecimento da efeméride
convenceu-o que as saudades de casa não medravam. Queria este distanciamento
como se fosse uma cura necessária.
Às tantas, de tanto se
lembrar que já tinha embarcado havia mais de um ano, incomodidades começaram a
nadar na espuma do pensamento. Quando decidiu partir para a emigração
itinerante, estava convencido que de nada fugia. Nem se perturbou por não
desviar o olhar para terra quando o navio zarpou do porto de origem; sabia lá
quando voltaria a refastelar o olhar na terra-mãe? Isso não era inquietação.
Metera na cabeça que o nomadismo era serventia para a reeducação por dentro.
Nessa altura, nuvem nenhuma destapava casos mal resolvidos que, porventura,
estivesse a entregar ao olvido.
As moléstias interiores faziam
a sua vez, talvez à conta da efeméride que ficara esquecida na data certa. Amizades
mal resolvidas, amores mal sepultados, desamores sem convicção, lugares a que
apetecia ir e permaneciam no limbo do adiamento constante, outros que assim o
foram e entretanto entraram no pecúlio do esquecimento. Algumas conversas
tinham ficado sem data ao embarcar para mares distantes. Só agora começavam
algumas interrogações impertinentes a rasurar as dores do pensamento: teria
fugido das conversas que deviam ter acontecido? Seria hipocrisia não declarada
a movê-lo na direção dos mares?
De tanto ter sulcado os
calendários, talvez essas conversas tivessem perdido oportunidade. Há dissidências
que se curam com o tempo. Punha em cima do tempo a distância a que se
oferecera. Quando regressasse (de férias ou para uma temporada mais demorada –
que tomava tanto gosto ao nomadismo que tirocinava, que já não admitia poiso
certo), deixar-se-ia conduzir pelo instinto. Se houvesse conversas adiadas para
arrematar, curaria de as arrematar. Não fugia das palavras que tinham de ser
ditas.
O filtro não era a covardia:
era saber se a quem as palavras haviam de ser ditas pertencia ao escol dos
protagonistas, ou se era mero figurante.
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