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Há uma bússola, preciosa
bússola, perdida algures entre livros penhorados em prateleiras empoeiradas,
que guarda o segredo da coerência. Grande parte do tempo provém das grades da
coerência – e sim, a coerência é uma unção que nos aprisiona, desfazendo a
espontaneidade porque é maior o temor de uma incoerência vir de mansinho, como
grande pecado a enodoar a presença.
A coerência devia ser afim aos
padecimentos individuais. Devia haver uma muralha que impedisse os outros de
espiolharem atos e palavras em rima com a (dizem eles, os juízes de alheias
condutas) indecorosa incoerência. Porque esses lautos sacerdotes da alteridade
são implacáveis quando ajuízam passos em falso nos outros, tal a destreza em serem
purificadores de almas outras. São exercícios vãos, aviltantes. Quem escava as
profundezas dos outros com a intenção de neles decifrar palavras que se
contrariam num tempo diferente, mortifica-se com a alma a que foi aquartelado.
O mal está todo feito quando,
sem encomenda de ninguém nem véu de legitimidade razoável, personagens soezes lucubram
sobre as contradições que não são suas. Imagina-se tais agentes imaculados,
tarefa impossível a de encontrar pecadilhos que os empurrem para o lodo da incongruência.
É o trejeito de ser porteira desocupada que treina a língua comprida com as
vizinhas também elas desocupadas, o desporto favorito da bisbilhotice e da
maledicência. Talvez não gostem nada da vidinha própria que levam, estes juízes
que ajuramentam a validade das palavras e dos atos (dos outros) com a benta
coerência.
E o que interessa se as
contradições em tempos diferentes são intencionais ou apenas distraídas? Elas
são património genético de quem as tutela, os indivíduos que são seus autores.
Mais impressão causa um sacerdote com o livro sagrado em riste, zeloso por
afiançar (e logo destruir) incoerências afiveladas que suas não sejam, do que
os ingénuos ou apenas provocadores agentes que são os maiores fornecedores das
contradições. Já Walt Witman o admitia, em pose terapêutica: “(c)ontradigo-me? Pois bem, então
contradigo-me. Sou extenso, contenho multiplicidades.”
Os oficiais de diligências
que andam à cata de alheias contradições vivem amuralhados numa pequenina
personalidade, reduzidos a um mundo que se denuncia na sua estreiteza. Os
horizontes acabam nas incoerências dos outros.
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