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Os ossos das mãos tremiam.
Seria do frio, seria do medo da noite. Tremiam. As palavras ecoavam no refúgio
da memória, incandescentes. Não deixavam que as memórias desaguassem em sua
foz, que se perdessem com as águas fluviais na vasteza do oceano que viesse a
ser seu leito. Mantinham-se trémulos os ossos das mãos, os dedos entaramelados
na avidez de um amanhã diferido.
Os olhos percebiam a altivez
do tempo presente. Era uma muralha por diante com pedras pontiagudas e musgo pegajoso,
para que as mãos não ousassem por ela trepar. A muralha escondia a alvorada
que, tal como um qualquer amanhã, estava em mora. O corpo sitiado pela muralha
era pertença de uma por sempre noite, uma noite que segava o sono e se metia
por dentro dos ossos que amparavam a larga estatura do corpo. Os olhos
espreitavam ao alto, passavam a pente fino o céu que se punha além do horizonte
que o pétreo muro deixava saber. Conseguiam lobrigar uma frágil claridade a
desprender-se do céu escuro, uma promessa de madrugada que depunha a noite recalcitrante.
A cima e a baixo, percorrendo
as porosidades da muralha em demanda de uma fraqueza que pusesse as pedras em
ruínas, as mãos cansadas não se demoviam. O tempo passava, e o amanhã que se
ouvira sussurrar em personificação de um oásis desconhecido adelgaçava-se no
fio do cansaço. As mãos, agora em ferida, não capitulavam. Desenharam um mapa
das partes da muralha já desemaranhadas. Faltava outro tanto e as mãos
antolhavam-se, sedentas de mais pedra por desenganar. Por isso tremiam. Não era
do frio, que nem a invernia conseguira arrebatar a combustão interior que
alimentava o corpo. E não era por medo de outro tanto haver por esquadrinhar.
Porventura não viria o amanhã
de que houvera convencimento ser um lugar melhor. Mas ao menos a noite, a
habitual noite que era sumptuosa morada da usança, não escondia nada. Nem as
sombras que podiam ser o ardil montado para logros entronizados, quando deles
se julgara serem convictas audácias.
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