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Roga pelas inditosas almas
que erram pelos cantos lúgubres do mundo, ó santo padroeiro das almas que se
penam. Sê vigilante da sua santidade, que são tantas as penitências que delas
se apoderam sem que elas tenham préstimo para as enxotar para o baldio dos
desperdícios.
Acende uma vela pelos
padecimentos a que os mortais sem sofrimento não dão valor. Oxalá os mortais
sem sofrimento não vejam um desfado cerzir-se no porvir danoso que espreita na
dobra de uma encruzilhada mal-afortunada. Para os bem-aventurados não troçarem
das almas que penam entre os corredores apertados onde o corpo se entrega às
dores pungentes. Não te esqueças, ó santo padroeiro, de tomar conta dos
possíveis desfalecimentos dos que estão prometidos à errância das almas em
dissolução. Mas toma conta dos que mais contam, os que já atravessaram as dores
lancinantes do vazio, da solidão excruciante, das constantes reprimendas do
tempo pelos arrependimentos estéreis.
Recebe as preces dos que a ti
se prometem e toma-as em devida conta. Perfuma os seus dias vindouros com
compensações que repristinem o sangue vertido pelos padecimentos interiores que
pareciam incessantes. Tinge de cores sumptuosas as dores que vieram de trás; se
serventia não lhes falta, ao menos que purifiquem os amanhãs em espera com
cores que não são as que foram vindas do tempo pretérito. Adia os cemitérios
que o sofrimento dilacerante promete antes do tempo; pois não há maior
sofrimento que o decesso, o adeus à existência em forma da mais covarde resignação
que pode qualquer alma gentia conhecer. Embebe em tua coroa de espinhos, ó
santo padroeiro que proteges os infaustos, com o sargaço que dá ao areal em
forma de espantalho da vida. Faz tuas as suas lamentações, deixa que elas as
deixem de sentir.
Toma as almas penadas em teu
protetor regaço. Convence-as que tu és entidade com poderes limitados, que aos
confrades da desdita compete o primeiro gesto que não seja de resignação
perante o desvalimento que parece irrefreável.
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