8.5.13

Moscas na polícia (e outras coisas lúgubres)


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Ninguém gostará de ser assaltado. Por causa do assalto, os bens desaguando em mãos alheias, uma sensação de vazio por diante. Duas vezes: ninguém gosta de ser assaltado. Sobretudo se participar o assalto na polícia. Pois depois seguem-se visitas a instalações da polícia, e fica-se a pensar se a obrigação de lá ir não é vingança rezada pelos assaltantes só pelo risco de a queixa algum dia os apanhar na maré vazia com os pés enterrados no lodo.
É medonho ir à polícia. Já não é por causa de quem lá trabalha, que os mais novos vão tendo instrução que mete de permeio um naco de bons modos no relacionamento com os utentes. Os mais velhos continuam com a pose sobranceira, como se usar uma farda os pusesse num pedestal e os cidadãos sem farda alojados estivessem num lugar subalterno – que é assim que a autoridade se faz. Um bem, contudo: os mais velhos são cada vez menos.
É medonho ir à polícia por causa das instalações da polícia. Da última vez, enquanto a sala de espera fazia companhia na espera antes de prestar declarações, quem também por lá esperava, e em abundância, era um enxame de moscas. Dardejavam as asas, erráticas, mas não saíam da sala de espera. E não era dia de canícula, que deve ser mais numeroso o séquito de insetos a tomar-se por companhia indesejável a quem tiver de fazer sala (de espera). Seguiu-se a descida às catacumbas. Escadas estreitas e sombrias, os materiais desgastados, o teto com os buracos da tinta desaparecida, outros locais atulhados de humidade, uma casa de banho entreaberta mostrando o pulsar de toda a lugubridade do lugar. A sala esconsa partilhada por três agentes, sem luz natural, desconfortável. 
Meia hora foi uma eternidade. Como lamentei o capricho (ou a tolice) de uma queixa que em nada vai desaguar. Saí das instalações da polícia com misericórdia dos polícias que investigam a pequena criminalidade que apinha as estantes com papel quase a amarelar, enquanto os crimes esperam sem que lhes arranjem solução. 

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