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No
pátio das ilusões, os espelhos vogavam entre as nuvens como cavalos alados sem
tripulante. Eram espelhos sensíveis, filigranas frágeis que estalavam ao mais
leve soar de uma
brisa.
Nos
espelhos navegavam imagens dispersas, fragmentos que vinham do tempo de
antanho, do tempo que fora épico, ou do tempo que medrara apoquentações. Eram
espelhos que irradiavam o sepulcro onde estavam as memórias. Como todos os sepulcros:
ou são esquecidos,
ou são ramificações onde se emaranham prantos inúteis. Também havia espelhos
que vinham emudecidos por imagens sem conhecimento. Imaginou-os em seus sonhos,
ou imaginou que eram imagens presságio. Alguns desfaziam-se em ruínas porque,
na sua fragilidade, sucumbiam perante o sopro não maldoso de um vento ladino.
Alguns espelhos vinham compostos por imagens garridas, uma cornucópia de
elementos que deixava adivinhar um porvir repleto de encantamento. Outras imagens eram sombrias,
mas sóbrias;
como as nuvens negras que algum dia se acastelam no firmamento atestam em sua
exigível sobriedade.
O
olhar procurou deter-se nos sensíveis espelhos que vinham debruados a cores
vivazes. Não curava aquele oráculo de captar os pronunciamentos da melancolia
que estivessem para vir. Aos sobressaltos, não há urgência na sua revelação.
Reservou o olhar, deitando-o no chão, quando se teciam no céu esses espelhos
contumazes. Não queria arranjar matéria-prima para pesadelos medonhos. Não
queria saber quando viriam as inquietações, nem por que arte subiriam elas ao
altar das lamentações. Notou que esses espelhos tinham espessura diferente,
eles não se esbatiam à mais breve brisa que se compusesse. Uma vela acendeu-se
no lugar da lucidez: os espelhos mais frágeis eram onde se teciam as coisas
belas que à existência podem vir. Também não cuidou de espreitar nos
interstícios dos frágeis e muito coloridos espelhos, que as compensações são
como surpresas que só devem se desatadas no tempo próprio.
Soube,
ao cabo da jornada entre o céu repleto de espelhos, que são mais frágeis os
sedimentos que lançam âncora num afortunado fado. Merecem o apuro todo que se
possa neles apor.
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