10.5.13

“Hoje o mar sou eu”


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Hoje sou maior do que a minha estatura. Hoje sei que tenho o mundo inteiro guardado numa mão. Hoje sinto as palavras na sua pose poética, até as que, poltronas ou cicerones da fealdade, frequentam a linguagem antipoética. Hoje olho ao céu e vejo-o na sua cristalina cintilação, mesmo que o tempo seja de nuvens plúmbeas. Hoje abraço-me às nuvens e guardo-as debaixo da almofada, para mais tarde pastorearem os sonhos ladinos. Hoje vejo as crianças em exuberante garraiada no pátio da escola, vejo como andam leves e desprendidas do teatro que virão a pisar mal sejam crescidas. Hoje vejo um cão vadio que usufrui da liberdade, impotente, todavia, para saciar a fome quando lhe apraz – e nem assim se arrependendo da liberdade. Hoje vejo como as andorinhas povoam a primavera, enfeitando as copas das árvores com o seu canto sibilino. Hoje sei que tenho pés para dar passos do tamanho do mundo, ou para além dele se preciso for. Hoje agarro o vento com as duas mãos e sinto que ele se demora entre a pele suada, nas mãos  depositando o eflúvio de um saber que interessa. Hoje sinto com a alma como jamais houve tempo. Hoje apetece estar acordado por todos os minutos que compõem as vinte e quatro horas do dia, para travar o sabor dos frutos adocicados que vieram embelezar o tempo. Hoje é como se sentisse a imortalidade, por mais que toda a gente do mundo mo desminta. Hoje sou as águas todas dos oceanos, todas elas condensadas num corpo franzino. Hoje sou um sol que irradia, frondoso e em plena combustão, uma constelação generosa que empresta bondade a quem dela estiver precisado. Hoje sou do tamanho das cordilheiras que se estendem até ao infinito, uma grandeza que medra de um olhar que sonda as cores diferentes de uma alvorada que nasceu singular. E hoje, à espera de outros hoje que para já ainda são amanhãs em promessa, olho o mar e sinto que, hoje, o mar sou eu.

1 comentário:

Ondas disse...

Também tenho dias assim.
beijo