12.2.14

Aos bufos, rifas!

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Os encantos da santa terrinha: o fisco convida-nos à bufaria. Consta que os comerciantes eram peritos em fugir à alçada do fisco. Pagavam menos impostos. Ressentia-se o erário público – logo agora, que todos os cêntimos de réditos fiscais são procurados como um expatriado perdido no meio do deserto anseia por umas gotas de água. E depois havia aquele argumento, ungido pela moral e pela tacanhez da coação psicológica, de que pagamos, os que não conseguimos fugir, pela fuga dos comerciantes.
À partida, a empreitada do fisco está fadada ao sucesso: somos propensos ao queixume e à delação (e de preferência, anónima, que a coragem abunda nas palavras mas é rasa nos atos). Mas é tanta a carência de impostos, para compor a casa que rebentava pelas costuras, que o fisco não podia arriscar na lógica das probabilidades – ainda que as probabilidades fossem elevadas. Saiu um coelho da cartola: para banir a improbabilidade de os contribuintes não aceitarem a delação dos comerciantes, esquematiza-se um modelo de rifas. Aos asnos, é preciso acenar com uma cenoura.
A pólvora foi redescoberta. O erário público está a salvo. O cobrador de fraque nem precisa de tirar as pantufas ou de levantar o rabo do sofá. O “sujeito passivo” passa a ser um ente ativo na captação de impostos. Com a mão amiga da tecnologia, que a informática ajuda a troca de informações e fica fácil saber que faturas pedimos e a quem. Os sacripantas que antes eram contumazes no pagamento de impostos estão sitiados. Agora, além de sermos “sujeitos passivos” (pagadores de impostos, sem remissão), somos ajudantes de cobradores de fraque. A cenoura que faltava são as rifas que sorteiam carros de alta cilindrada entre os delatores.
Fica a faltar um ato desta ópera bufa: o Estado aviltante, que descobre todos os dias maneiras de ser intruso na vida das pessoas (e ainda chamam a este governo “neoliberal”...), devia arranjar maneira de obrigar – merece repetição: o-b-r-i-g-a-r – os “sujeitos passivos” a pedirem sempre fatura. Quem o não fizesse ficaria sob a mira dos diligente bufos, os que pedem sempre faturas para que os vendedores não fujam à mui civilizacional obrigação do pagamento de impostos. Seriam bufos em dupla dose: também delatores dos contribuintes que se recusam a pedir fatura.
Que tirem bom proveito do carrão de alta cilindrada.

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