In https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgoNVytdw6OpZwmIwO_EUntLgz3_Vfp7JZVmZ1rP9ciNDKYVSGcKBlBCkq5kNvbC-wc2f_dSzWs_3ZKMidX9C5kXnBtwKC_hsn_goJ2-krEMz5PmaltkzvEw0wpJTyFLhExWfiH/s1600/caixa+de+robalos+do+armando+vara.jpg
Ligações privilegiadas. Duas pancadinhas
nas costas, que tudo se resolve. Amiguismo e seguidismo. Portas que se
entreabrem se houver conhecimentos certos no lugar certo e no tempo que
interessa. Às vezes, quando as pessoas não chegam para destravar a decisão que
se deseja, o dinheiro corre debaixo da mesa. Outras vezes, fica-se a dever
favores que o futuro tratará de reivindicar. Também há quem suponha que as leis
só são cumpridas pelos ingénuos e os que não têm conhecimentos que desatam os
nós apropriados, e que dois dedos de conversa, da amena cavaqueira, resolvem
impasses da lei que é sempre um estorvo quando nos penaliza se a não
respeitarmos.
Cunhas, há-as para tudo e mais alguma
coisa. Dizem que é uma doença moderna. Só que se cuida de ver nela uma moléstia
ancestral. Talvez as cunhas se inspirem na católica propensão para as rezas aos
santos certos na ânsia da obtenção de certas comendas. Milagres ou não, intercede-se
junto do altíssimo através dos seus peões que são o vasto exército de
santidades com direito a sagração popular. O tráfico de influências terá sido inventado
por contágio desta católica forma de ser.
Os crentes entregam-se nas mãos dos
santos da devoção. Pedem milagres, ou a satisfação de empreitadas que julgam
estar fora da suas mãos. Metem uma cunha a um santo que foi eficaz na
satisfação das encomendas. E prometem as pagas que julgam adequadas, para não
ficarem reféns de outra doença contemporânea que é a ingratidão. Ou para o
santo da devoção anotar num caderninho as promessas que foram satisfeitas, não
fique futuro pedido de concessão de graças hipotecado pelo esquecimento. Os
santos assim demandados são os recetores de influências. Levam-nas à
consideração divina, o juiz supremo da concessão das graças. Sobra, depois, o
favor por compensar na forma das penitências prometidas em caso de cumprimento
das graças pedidas. Nas cunhas terrenas, também há a paga de favores quando quem
as pede mais tarde ganha posição de as satisfazer. E também há uma paga mais
material, com caixas de vinhos gourmet,
galinhas (vivas) para o arroz de sarrabulho, robalos (cadáveres) para o forno,
gravatas dispendiosas, canetas de escol, etc.
Os poderosos (ou os que à sua roda
gravitam, ou os que o aspiram a ser) que apascentam influências são como os
santinhos da devoção: desmultiplicam-se em generosos dádivas.
1 comentário:
Óptima metáfora!
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