In http://www.zenzi.org/blog-imagen/Diciembre-2010/arte-papel-torre-babel.jpg
- Tens medo da lua?
-
Se corro contra o
tempo, empunhando um punhal afiado, por que teria medo da lua?
-
Pareces amedrontado com o luar que quebra a tirania da
noite...
-
Impressão tua. Sou
um pouco como um lobisomem. Alimento-me do luar.
-
Das luas todas que o sol tem?
-
E de todas mais
que vierem a ser achadas.
-
Não te são dadas a conhecer fragilidades dentro de ti?
-
E isso importa?
-
Tínhamos combinado que eu fazia as perguntas.
-
E as regras são rígidas?
-
Fazes outra interrogação...
-
Se me conheço
fragilidades? Nunca pensei nisso.
-
És como um castelo, as ameias tão altas que por dentro és
oculto aos demais?
-
Dentro de mim não
há nada que interesse aos outros.
-
Não é só um pretexto para ensimesmares?
-
Digo-te que é apenas
aquilo que é.
-
Mas podemos ser uma ilha, como se não articulássemos com os
outros? Não te esqueças, vivemos em sociedade.
-
Admito. Vivemos em
sociedade. Mas preservo as fronteiras que me separam dos outros. Com eles
interajo no estritamente necessário.
-
Tens ideia que navegas num egoísmo que pode ser atroz aos
olhos outros?
-
Lá vens tu com a
mesma ladainha. Os outros são uma desnecessidade.
-
Pisas o risco da sociopatia?
-
Não sei. E também
não sei o que é a sociopatia.
-
Aqui chegados, tenho outra perplexidade: chegas a gostar de
ti mesmo?
-
Não vejo a
utilidade da pergunta.
-
Se rejeitas os outros, a menos que deles precises,
dir-se-ia que te auto deificaste?
-
Essa é uma
pergunta desconfortável. E sem serventia que se veja.
-
Porquê?
-
Porque se
ensimesmo, e se desvio o olhar das apoquentações que não são minhas, por que hão
de os outros pronunciar-se sobre a minha existência?
-
Foges da resposta com uma interrogação...
-
...Não! Constato. É
um método. E até admito que ao ser metódico me inspirei numa regra que cimenta
as vossas relações sociais: não praticar para fora de mim o que não admito que
sobre mim, através das mãos outras, seja cometido.
-
Vives numa torre de babel?
-
A que vem ao caso
tal demanda?
-
Inexpugnável, labiríntica, a torre das ameias do tamanho do
céu.
-
Só a alguém que
montasse num corcel alado seria admitida a visita ao meu castelo.
-
Tem cuidado. Um dia vens a descobrir que afinal és senhor
de uma torre de papel. Frágil como o papel se revela quando vem o primeiro
vento enfurecido.
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