19.2.14

Paladino da riducularia

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Pantominas sem saber. Em seu íntimo, todo um contrário: o ar garboso, jactante, a pose seráfica a impor respeitabilidade, uns parêntesis a consumar um grotesco sentido de humor (e lançar as gargalhadas mal a piada foi bolçada, antecipando-se à não gargalhada dos ouvintes).
Também sem o saber, presta um inestimável serviço público. Se por público se considerarem os que esbarram na sua prosápia risível. Serviço público, e dos impagáveis, por ser um mapa por onde os outros sabem que não devem transitar. E mais ainda sem preço o serviço público que oferece sem nada pedir em contrapartida: ora, o ridículo, às vezes, é um entretenimento. É preciso ter circenses figuras de plantão. Para romper com a modorra, com os tristões que contaminam a paisagem com o cinzento que se aninha em seus seres. Entre a gente desinteressante e enfadonha e os que mergulham no ridículo, a escolha inclina-se para estes?
Habita num poço de contradições. Tem-se em muito elevada consideração. Como se adejasse, fruto de uma superioridade inenarrável, por cima dos comuns mortais (ele não se considera tal). O patine é pergaminho. Mas não é pergaminho do que acha ser seu merecimento. Os poucos que não enjeitam genuflexão são da mesma igualha (pois não são apenas os opostos que se atraem; também acontece com os iguais). Os demais apreciam a indigência. Porque entretém, sendo um desfiladeiro onde se amotinam as aberrações da espécie. É um pouco como ir ao circo ver anormalidades. Ou, como faziam os de antanho, que saciavam a curiosidade (mórbida) a apreciar mulheres barbudas, anões, homens com mãos de seis dedos, achados africanos que se confundiam com animais da selva, ou o homem gigante (para cima de dois metros e vinte).
O ridículo não mata – o que desmente outro achado da sabedoria popular (desmentindo-a enquanto sabedoria; resta apenas o popular). O ridículo fermenta e multiplica-se. Não mata, mas é doença. Porque quem se deita no ridículo não o faz por ato volitivo: o ridículo é uma transcendência. E porque há toda uma vasta audiência no cortejo de ridículos que passam, servindo o género. Parecendo que muitos alimentam o desejo secreto de serem próceres da riducularia.

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