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A espuma que vem, outra vez, à tona:
dizem que a “socialização” dos neófitos estudantes é primária, violenta,
humilhante, degradante, e mais um punhado de adjetivos nada elogiosos. Como
desta vez se suspeita que mortos havidos se devem a boçais praxes, o assunto
voltou a ter visibilidade. Os campos dividem-se. Há quem exija a proibição da
coisa. Há quem mantenha os pés firmes na “tradição” e recuse o proibicionismo.
Primeiro: os alunos que entram na
universidade são maiores de idade. Sabem cuidar de si. Têm – ou devem ter –
vontade própria. Se forem o protótipo da pessoa comum, não gostam de ser
humilhados, não são subservientes, não querem ser as figuras circenses que põem
nos outros uma farta gargalhada. Cabe-lhes recusar o anacronismo e denunciar
ameaças de estigmatização por serem objetores de consciência.
Segundo: os aduladores da praxe insistem
na javardice, estimulam práticas que são retrocesso cognitivo, contentam-se com
a humilhação do outro, cultivam uma relação social medieval baseada em castas.
Não é coisa que seja digna para quem julga a indignidade da coisa.
Aparentemente, ainda vivemos num lugar onde é permitida a divergência de
opiniões. Se há jovens e menos jovens que se entretêm a “socializar” outros,
entregues a um onanismo intelectual que podia ser objeto de estudo de
psiquiatras, deixá-los ser e deixá-los estar. A imbecilidade não é proibida por
lei.
Terceiro: estou cansado de proibições.
Esta democracia adultera-se a cada passo que julga poder resolver problemas
através de um cardápio interminável de proibições. Legisla-se ao menor frémito
e, de caminho, a legislação contempla proibições a eito (ou autorizações
dependentes das autoridades, só para enfatizar o poder das autoridades – numa
forma suave de proibir, que é exigir que se peça autorização). As “praxes
académicas” causam-me náuseas. Mas pior seria proibi-las por lei. Também não
gosto de touradas, ou de concertos do David Fonseca; tenho bom remédio: não vou
a touradas nem me apoquento com concertos do David Fonseca. Era o que mais
faltava aparecer condoído a exigir uma lei que os proibisse.
A estética é tudo, e muito relativa. A
anti-estética das coisas também. Há gente que se denuncia pelas pessoais
preferências e pelas palavras e atos que são suas. Não é isto moralismo em
germinação. Quem não gostar de praxes, desvie o olhar – ou anote-as com
cuidado, só para perceber a indigência em que certa gente se encerra. Apetecia
pressagiar que os praxistas fossem praxados. A medieval hierarquia, e a coisa
na sua essência, não o admitem. A vingança espera-os em sua glacial temperatura,
contudo. Quando os mais veteranos decidirem deixar de gastar dinheiro dos
progenitores e concluírem os estudos, a selva do trabalho (ou do desemprego)
está à espera deles. Para a invisível e a pior de todas as praxes.
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