10.2.14

Bolachas com leite?

Morphine, "French Fries", in http://www.youtube.com/watch?v=2n7yOkeFJMM
Alguma literatura consagra as criancinhas. Destilando um ódio pelos crescidos, desencoraja os petizes a querem ser, ou apenas a fazer de conta que são, adultos. Deixai as complexidades para a idade adulta e aproveitai a meninice que desconhece as torpezas que hão de acontecer pela batuta da madurez. Dizem: é na infância que somos puros.
Desajeitados na sua maturidade mal pendida, ou desenganados por sobressaltos que espigaram a dor, queriam, se pudessem, voltar muito atrás no tempo. Imagino que se imaginam prisioneiros da infância, no regozijo dessa condição que não consideram um cárcere. Mas a biologia não cauciona fantasias. Os corpos crescem. As mentes também. E ascendem das profundezas as sombras que enxotam a lucidez. Parece que não contam os confortos que houve durante a alforria da meninez. Só contam os sobressaltos que inflamaram a dor, as vilanias que açambarcam os tempos, a capitulação que cresce com o tempo que se devia fazer madraço. É gente que vive depressa quando queria passar devagar pela vida; ou gente que segue com vagar quando apetecia estugar o passo pela existência. Desaproveitam os anos de ouro que são os da lucidez desembaraçada das imberbes fantasias.
Tudo ao contrário: a tenra idade é uma maçada. Um espartilho incómodo quando somos protegidos dentro de uma incubadora, porque lá fora o mundo é terrível. É o pior dos engodos. Porque se o mundo lá fora é terrível, as criancinhas deviam ser treinadas desde que são gente. Mais tarde, as dores são lancinantes. Pois estão impreparados para suportar a tempestade em que se metem, já sem o baraço de quem os protegeu no seio de seu cais progenitor. A tenra idade é uma maçada. Desconhece os prazeres que a madurez adestra. Que mal vem ao mundo quando tropeçamos em gente soez, ou se somos gente soez (que a ninguém é dado o atributo de ostentar uma canhestra e arrogante superioridade)? Os estarolas desenganados vagueiam na sua errância. A maior de todas é quando bolçam as saudades do tempo em seu retrocesso, até pararem na longínqua idade de que tudo se diz ser inocência.
A infância é desinteressante. Mais desinteressantes são os cultores da estética da infância. Cálice erguido, pois, aos prazeres que são antítese da infância.

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