Pixies, "Stormy Weather", in http://www.youtube.com/watch?v=CKvjORjy0d4
Conversa sobre o tempo, do tempo que
faz, com a sucessão de intempéries. Mas não é para desconversar.
Ouço as pessoas a lamentar a invernia
rigorosa que se pôs este ano. Estão fartas da chuva, do vento, do frio, das
tempestades, do mar alteroso, dos alertas amarelos e laranjas e vermelhos do
instituto de meteorologia. Há prantos pelas saudades do tempo soalheiro do verão.
Alguns, se lhes fosse dado o vencimento da sua vontade, nunca tinham inverno. Detestam
a chuva. Nunca pensaram o que seria do bem-estar (a começar pela higiene que
exige banhar o corpo) se a chuva fosse banida dos boletins meteorológicos. Outros,
resignando-se à chuva – como se fosse um preço irrecusável para aprouver necessidades
básicas – protestam contra a congeminação dos elementos atmosféricos que, neste
inverno, dirigiram as nuvens em ininterruptas catadupas para o território onde
estamos.
Como a memória tem perna curta, quase
todos se esquecem que os invernos anteriores foram de aridez (para os padrões a
que estamos habituados). É assim que somos: gente radical. Quase todos
ignorantes da ciência meteorológica, andámos ansiosos com a aridez prolongada
que tomou conta de invernos anteriores, fazendo aliança com os peritos que
advertiam para as catástrofes que podiam vir se a chuva não nos visitasse. Só faltou
fazer danças da chuva, pedindo-as de empréstimo a uma tribo índia especialista
no assunto. Agora que o inverno tem sido abundância de chuva, encharcando os
ossos dos que são apanhados na rua a meio de uma intempérie, atiramo-nos contra
a impiedosa mão divina que desviou a rota das plúmbeas nuvens para estas
latitudes e açambarcou o sol, adiando-o para o tempo em que o tempo é seu
feitor.
Ainda dizem que somos de brandos costumes.
Ou nos queixamos de invernos sem chuva, ou protestamos porque os invernos são
passados a água. Quem se despe no altar da radicalidade não é de brandos
costumes. Assim como assim, será a influência que os elementos atmosféricos
produzem sobre nós. Tal como temos invernos rigorosos (por ausência ou excesso
de chuva), também temos propensão a ser radicais. Como o tempo que se põe.
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