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As águas
lodosas eram o leito do navio que mais parecia uma silhueta. Parado, ao longe,
embebido na ferrugem que o tingia com a cor de uma antiguidade. Pararam-no num
canto, num lugar recôndito do cais, onde poucos se atrevem a ir. Dizem que se
ouviam sussurros lúgubres sempre que alguém se aproximava.
Ninguém
sabia quem era seu capitão quando fundeou. Apenas se sabe que foi durante a
madrugada, estavam os sentinelas em descanso, e o navio aportou num estertor
clandestino. Ninguém viu os marinheiros a desembarcar. Ninguém sabe que carga
trazia. Visto ao longe, parecia uma penumbra que teimava em não perecer. O
estranho caso do navio não deixava ninguém indiferente. Dele rezam histórias
medonhas, de rituais que se cumpriam quando as nuvens escondiam o luar, ou
quando a lua se escondia dos olhos humanos. Ninguém queria dizer o que sabe
sobre a história do navio. Houve quem viesse de longe, atraído pelo estranho
caso que é o navio. Os trabalhadores da estiva e os locais desconversavam
quando um forasteiro pedia informações sobre o navio fantasma. Desconfiavam que
estivesse embruxado. Logo a seguir ao enigmático fundear do navio, aconteceram três
mortes macabras, algumas doenças súbitas, uns atos tresloucados de gente
respeitável. Não podia ser coincidência. Só podia ser tramoia do navio
contumaz.
O
tempo foi correndo e ninguém via movimento no navio. Ninguém correu o risco de
ir a bordo, nem as autoridades queriam romper o mistério instalado. O navio
sequestrou-se dentro das suas muralhas. Deitou-se naquele recôndito canto do
cais, onde as águas mais lodosas faziam confluência. Até o nevoeiro desaguava
naquela parcela do cais, alimentando o fantasmagórico navio. E nem o mar
corrosivo chegava para o importunar. A ferrugem que crescia era uma camada que
se somava à penumbra que era o navio. Os mais corajosos que ao perto
conseguiram chegar juraram que o navio não vacilava no seu perene flutuar. E
juraram, expeditos, que de cada vez que ao de perto chegavam, uma súbita
neblina tombava sobre o navio, cobrindo-o de mais penumbra.
Uma madrugada, sem que ninguém contasse,
o cais que já se considerava leito perene do navio fantasma achou-se vazio.
Zarpara sem pré-aviso. Os vigilantes juraram a pés juntos que ninguém entrara no
cais. Sobrou o mito do navio fantasma. Diz-se que era um navio sem tripulação.
Outros dizem que aquele navio nunca existiu.
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