27.6.14

Do oito e do oitenta

In http://sobreavidadotcom.files.wordpress.com/2011/09/fosforo-feliz.jpg
Dantes, em véspera de transmissões televisivas de importantes jogos de futebol, passavam anúncios de medicamentos para tratar a impotência masculina. Agora, passam anúncios para sarar a ejaculação precoce. Dantes, era um homem ainda jovem que se cobria de vergonha por não conseguir satisfazer quem com ele dividia lençóis. Agora são dois fósforos que se entrelaçam, havendo um deles (o fósforo masculino) que esgota o pavio antes do tempo.
(É enternecedora a propensão dos publicitários de serviço para as metáforas sugestivas.)
Dir-se-ia que não há novidade. Primeiro, está provado que o público-alvo desta publicidade que se mete nos prolegómenos e nos intervalos (do futebol na televisão, bem entendido) são varões. Segundo, fica provado que a homenzarrada, sobretudo aquela que ainda não entrou em andropausa, se incomoda com os distúrbios das hormonas (que ora podem estar adormecidas, ora podem escorregar para tamanho estado febril que deitam tudo a perder). Terceiro, a mudança de registo publicitário pode ser o selo de uma causalidade. Que é como quem diz: se dantes muitos marialvas tinham problemas no aquecimento e se retiravam do tabuleiro antes da função começar, agora, fruto da medicação, mal o jogo começou e já eles estão fora de jogo, para infortúnio das/dos parceiras/parceiros (que aqui não se pratica, no discurso, a desigualdade de preferências sexuais).
Esta publicidade é só virtudes. Ninguém protesta. Os varões não protestam, porque medicamentados como deve ser tratam os seus problemas existenciais por insuficiente desempenho. Não protestam também as/os companheiras/companheiros que, podendo não ser admiradores do desporto em cujas transmissões televisivas se intercalam os ditos anúncios, tiram partido do progresso no desempenho dos consortes. Nem mesmo as feministas exaltadas podem vociferar, atirando os dardos da desigualdade em que tanto medram (a menos que sejam frígidas).
A persistência na publicidade aos medicamentos que curam maleitas sexuais masculinas é, por outro lado, sintoma de que muitos haverá consumidos pelas ditas. Sejam elas por defeito ou por excesso. É caso para rematar (ou não estivesse a publicidade a mover-se no contexto do futebol): não tem ponta por onde se pegue.

Sem comentários: