In http://31.media.tumblr.com/tumblr_mcl02vsZYE1ro2gqjo1_500.gif
Mortificações interiores traduzidas em
pauta musical. Musicando histórias pungentes de um autor que canta as suas
angústias, que confessa à audiência viver aprisionado pelos fantasmas de que
não se consegue libertar. A páginas tantas, o cantor revolve-se sobre o dorso
arqueado e vocifera, como se estivesse precisado de exorcizar os diabos que se
apoderaram dele, que é a pior pessoa à face do planeta e que não devemos ter
comiseração dele, que a maldade é tanta que se não compadece com comiseração
alguma.
A audiência exulta, parte dela
(adivinho) sem perceber duas palavras seguidas dos queixumes que mortificam o
cantor. A outra metade que exulta, airada pela compreensão da língua
estrangeira, mostra uma compassiva tolerância. Assim como assim, o grupo faz
música que inebria as massas e o concerto – dizem – é de uma entrega singular e
de uma partilha com o público que deixa vir ao de cima a cumplicidade entre
todos. O público anónimo, mal convivendo com o anonimato, compraz-se ao ser
instrumentalizado. Berra, emocionado, com as convulsões do cantor, excita-se
quando o cantor decide saltar do palco e celebrar a intimidade (já em grau
superior à anterior cumplicidade) com o público. Parece que o cantor queria que
o público lhe enxugasse as lágrimas, ou que lhe passasse um afago pelo cabelo
para ele não se condoer tanto. Faltava a derradeira prova dos nove: se o cantor
levasse até ao fim o estado depressivo e cortasse os pulsos, muitos seguidores
o fariam acriticamente.
Foi um concerto em forma de terapia.
Para o cantor que exibia a sua desgraçada condição, como se o concerto fosse o
rebentar de uma borbulha purulenta e a música acompanhada pelos prantos o pus
em levitação. E terapia para parte da audiência que deve frequentar divãs de
psiquiatras. No final, até os plumitivos foram unânimes na genuflexão. Somos,
muitos, propensos à indulgência com os coitadinhos – e muitos, sê-lo-ão também,
coitadinhos em pessoa. O cantor, cuidadosamente negligente na pose, como soe
ser nestes casos de interiores padecimentos, recebeu o aplauso quase unânime.
Haja paciência. Quanto mais não seja, ó aduladores
da performance artística (chamemos-lhe assim), para quem não aplaudiu e lhe
incomoda o género do desgraçado que arrasta em público as interiores mortificações.
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