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(Onde
se ficciona com as eleições primárias abertas a militantes e “simpatizantes”
socialistas)
O Tozé, que é um iluminado, um génio da
política, não queria abandonar o poder. Não o queria ceder a ninguém, nem mesmo
ao Costa que é levado ao colo pela imprensa. O Tozé tirou um coelho da cartola
(não o que ele queria que o presidente da república demitisse depois das
eleições europeias): vamos a votos ver quem recolhe mais simpatia entre o povo
em geral. Só para mostrar que é um político que os tem no sítio, contrariando a
imagem imberbe que os especialistas das emoções faciais se apressaram a
desenhar em devido tempo. De caminho, o Tozé sacudiu a poeira da tralha que é o
partido de que é líder e impingiu ao público a patranha de uma imagem
modernaça: o partido ia-se abrir ao povo como nunca nenhum ousou fazê-lo. No
seu calculismo, terá acreditado que a carta que tirou da manga lhe trazia dois
troféus: a confirmação da liderança e a sinecura de primeiro-ministro, por natural
embevecimento do povaréu diante do modernaço gesto do Tozé.
Tozé não contou com a natureza pérfida
do Homem. Onde estudou, ninguém lhe ensinou os cartapácios de Maquiavel (ou ele
não os leu). Desaprendeu os golpes baixos que se aprendem nas juventudes partidárias,
onde fez distinto tirocínio. No dia do plebiscito, exultou com a presença
numerosa nas mesas de voto, que foi em maior número do que nas eleições dos
últimos três anos. Esfregou as mãos de contentamento, fazendo contas a uma
vitória em dois atos, em puro knock out
do ingrato opositor.
Mas o Tozé esqueceu-se que a natureza
humana é a que é. Se não fosse ingénuo, umas contas por alto chegavam para
concluir que tanta gente a participar nas eleições diretas não era o somatório
dos militantes e dos “simpatizantes” da agremiação. Tozé não sabia das
movimentações clandestinas. Militantes e apoiantes dos outros partidos também
souberam mostrar a sua generosidade. Houve gente com genético ódio ao PS, e
outros, muitos outros, tementes do regresso dos socialistas ao poder, que se
mobilizaram. Não temiam o Costa, de quem sabiam não ser grande espingarda. Estavam
seguros de que manter o Tozé à frente da agremiação socialista era a garantia de
que ele e os companheiros não iam para o governo fazer ainda pior do que estes
que por lá andam.
Ao princípio da madrugada veio a
sentença dos eleitores. Os militantes, os “simpatizantes” e a maioria de todos
os outros que quiseram, com o seu voto, boicotar os socialistas, deram uma
vitória retumbante ao Tozé. O que o Tozé não sabia – ao aparecer, guloso, a
comentar a vitória no pleito – é que estas tinham sido umas eleições
pré-primárias para o futuro governo. Ele ganhara hoje para perder uns meses
mais tarde, quando viessem as eleições a sério. Ingénuo e apedeuta, o Tozé não
percebeu que foi o fautor da toca do lobo onde foi atraiçoado. Pela avidez de
quem se segurou ao poder como se não houvesse dia seguinte.
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