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Não é como a roleta russa. Mas é
temerário na mesma. Um tiro no escuro, não sabendo da textura do labirinto por
onde ecoa a bala, ou se ela pode fazer ricochete e regressar ao remetente. Não
domina todas as variáveis. Teve conselhos de gente sensata, gente que mede
todos os passos que dá e só os dá quando dão aval sem temor de represálias.
Teve conselhos que eram desaprovação da
ousadia. Diziam, os precatados, que podia ser vítima da sua precipitação, algoz
de si mesmo. Depois, não podia remediar o terreno minado que passaria a ser seu
chão.
Todavia, não se acomodava com a
monotonia das decisões sem risco. Concedia: eram as decisões racionais, mas o nutriente
da existência não se aloja na repetitiva safra dos atos coreografados na
precisão de um estirador. Por isso sempre foi um doidivanas. Não se lhe
conhecia rumo certo. Porque não queria ser refém do previsível. Não queria que
o tempo viesse tingido pela desconsolada iteração. Costumava dizer aos mais
próximos que a monotonia era um punhal cravado fundo na carne, um golpe
excruciante. Preferia a errância, um nomadismo nem que o corpo não saísse da
cidade por longas temporadas. O pensamento emalava os pertences e demandava
distantes paragens. Era pior. Quando o pensamento voltava a aterrar e notava
que não tinha saído do mesmo sítio, a angústia subia célere pelas paredes
encardidas e mandava descer o tempo plúmbeo sobre o horizonte.
Um dia haveria de vir a resolução
destemida. Era como advertiam os mais próximos: era um tiro no escuro. Descontava
os piores efeitos que podiam vir doravante. O mal maior seria regressar à casa
da partida e aprender a conviver com a história do tempo desperdiçado. Estava a
precisar de ir, nem que às escuras fosse. Era tempo de ir a jogo. Sem as peias
da cosmovisão ensaiada na estreiteza do pensamento fértil. A inércia – jogada
em alternativa, todavia vedada – era uma carta fora do baralho. As outras eram
todas uma incógnita.
Ali estava, deposto perante a
eventualidade do porvir, em pose de cabra cega, nas mãos do que houvesse de
vir.
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