Darkside, "Metraton", in https://www.youtube.com/watch?v=VFfKPZhY16Q
Um lampejo clarividente, uma centelha
acendida por mão divina (fazendo crer, pela oportunidade que se revela, na mão
divina). Coalhando todos os despojos que restam inanimados no chão, sem
serventia que não seja a de folhear o perjúrio do passado.
A centelha alumia o caminho que, de tão
escuro, só podia ser notado pelo tacto. É como se ao chegar ao fundo do quarto
a escuridão fosse finita, mercê de uma janela descarapuçada por onde entram os
raios de um sol que estava sitiado para além do hermético quarto. O pensamento
elabora as perguntas que outrora não tinham resposta ou tinham resposta
benemérita, apenas para caldear o olhar com a poeira que disfarçava o que olhar
não queria atestar. As perguntas que esbarram contra a saciedade do pensamento:
o que mais importa? O que faz da existência um lugar recomendável? Que
guitarras se perfumam com uma melodia cristalina, fugindo da verve untuosa que
é um embuste por onde tantos fazem de conta do que almejam ser (e não
conseguem)?
Os amantes encerram as respostas às
perguntas todas. São os deuses mais altos da humanidade. Mandam nos sentimentos
que contam. Têm o desassombro do pulsar genuíno, sem esconderem o rosto, sem
negarem as palavras que interessam, recusando as arestas vivas que podem deixar
cicatrizes. Pois os amantes sabem que só eles contam para o tempo vindouro. Só
eles sobrevivem entre os escombros. Só os amantes sobrevivem às tempestades que
povoam pânico. Só os amantes decantam as densidades certas do que tem valimento,
rejeitando os apóstolos do infortúnio, destinando à indiferença os que teimam
em morder os cachimbos da paz.
Os amantes sobrevivem. Só eles. Os
outros dizem que vivem. Pode ser que sim. Dentro de um labirinto que é a morte
para os sentidos que importam. Fazem de conta que sobrevivem. Embaciados pela
ilusão, atiram-se para os braços das demoníacas entidades que neles propagam as
doenças maléficas de que depois são agentes contagiadores.
Do seu púlpito, os amantes que
sobrevivem oferecem toda a indiferença.
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