11.6.14

O Novo do Restelo

In http://blog.thefoundationstone.org/wp-content/uploads/2011/03/31dec09-looking_forward.jpg
A varanda da casa dá para as águas lustrosas do Tejo. O porvir também é uma incógnita, hoje como outrora. Mas o Novo do Restelo, desempoeirado, cultor de um otimismo ímpar, acorda todas as manhãs com a certeza que os dias por diante virão tingidos de cores garridas e as pessoas andarão jubiles pelas proezas que, em conjunto, nesta era irão legar ao conhecimento. Por isso, o Novo do Restelo escolheu uma casa perfeita, sem escaras, sem esquinas rançosas que obliterem o futuro.
O Novo do Restelo tem inimigos de estimação: os vizinhos mais velhos, de rosto sorumbático, braços caídos e andrajos que acamam nos seus corpos entorpecidos. Boicota-lhes o desânimo. Condena as vociferações contra a possibilidade de um tempo desconhecido ser coutada de um tempo melhor. Arremete contra o conservadorismo empedernido, o horror à mudança por temor dos enigmas que se amigam com a mudança sem plano. Abomina os Velhos do Restelo, nem que a empreitada seja (nestes tempos de gigantes dificuldades) homérica, à mercê da desigualdade de números: os Velhos do Restelo são uma fértil reprodução dos tempos árduos. Os Novos do Restelo estão – dizem os Velhos do Restelo, em profecia que pretendem sagração de um oráculo – em extinção.
Erro o deles. O Novo do Restelo não quer saber dos outros como ele. Persiste na empreitada que muitos, alguns como ele, julgam condenada à derrota. Não capitula. Não desiste dos ideais. Desdobra-se. Na articulação de argumentos convincentes, o que, olhando aos tempos íngremes, é obstáculo de importe. E na consumição de forças no combate desigual com os Velhos do Restelo que nascem todos os dias. Nem assim o Novo do Restelo se refugia na aparente impossibilidade das causas. Pois só o otimismo consagra a salvação da espécie, que, de outro modo, sucumbirá à sua própria autofagia.
Não o faz como tábua de salvação, nem como oportunismo para resgatar a espécie à sua autofagia. Está convencido que é a genuína solução para arrematar os tempos difíceis que são uma teimosia. Pois enquanto houver Velhos do Restelo a proclamar a resignação, a ditar para os autos o fim de tudo perante as dificuldades imensas, a negatividade ameaça contagiar-se aos tempos vindouros. E como do refluxo das vontades raramente se esboça obra que tenha valimento, o Novo do Restelo sente-se cada vez mais novo.

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