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Um artista plástico criou uma obra de
arte que troçava da bandeira nacional. Um qualquer zelador dos bons costumes
pátrios estava de atalaia e o artista não demorou a ser levado a tribunal. Há
leis que mandam punir quem escarnecer da bandeira nacional. Porque – como somos
ensinados desde os bancos da escola, na habitual lição de cinzentismo que nos quebranta
– “não se brinca com coisa sérias”.
Há a mania instalada de divinizar coisas
e pessoas. Atingido o estatuto divino, ai de quem troçar ou criticar as coisas
ou as pessoas que nele foram entronizadas. Nas escolas ainda se ensina às
criancinhas que tivemos um passado glorioso, que demos a conhecer ao mundo
novos mundos e fomos donos de metade do mundo. Não se recomenda que venha uma
amnésia estalinista a faça esquecer as proezas dos longínquos antepassados. O
que está errado é a esquizofrenia temporal: as criancinhas serem convocadas na
sua tenra idade a terem saudades dos tempos em que houve uma gesta que lavrou o
orgulho imemorial. Quando as crianças deixam de o ser, as dores de crescimento
passam-se ao contrário: uma ambição, transitada da história que conta um conto
de fadas sem representação no tempo presente, que mede mais do que o corpo que
temos.
Não sei se também é ensinado às
criancinhas que a bandeira nacional não pode ser beliscada, sob pena de
desrespeito à nação que foi berço. Tendo ministros e secretários de Estado que
usam à lapela uma bandeira nacional, em saloia exibição de patriotismo, não
admira que o fervor patrioteiro seja transmitido nas escolas. Mas há um sinal
de pequenez que nos deixa sequestrados: sermos tementes dos preceitos
absolutos, vedado o desassombro de escarnecermos de nós mesmos, das
fragilidades que nos consomem.
Que mal tem um artista recriar a
bandeira nacional como obra de arte? Atinge o epicentro do orgulho pátrio e a
nação fica desvalorizada pelo ato criativo? Os zeladores dos nobres valores
pátrios que estão de atalaia ao menor atropelo à bandeira não percebem que o
atropelo maior é restringir a liberdade de criação artística? Deixai a bandeira
ser recriada, nem que seja para provocar reações emocionais dos que se apegam à
sua absoluta condição. Nem que seja para ser processado, já que os tribunais
não devem ter tanto trabalho como consta.
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