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Conspirava. Era o seu bálsamo. O seu habitat natural. Congeminava as
profanações piores que a imaginação podia tecer só para atrapalhar quem fosse
colocado no radar de vítimas. Não tinha complacência. Às vezes, quando umas ligeiras
dores de consciência o aquietavam, perguntava pelos seus pergaminhos, que os não
julgava condizentes com a bondade que tantos querem como mantimento da espécie.
Ato contínuo, embebia-se da mesma frieza de espírito que o tornava maestro da
malícia cometida sobre o próximo ou o não tão próximo.
Não dava o rosto nas congeminações
maléficas. Escondia-se no anonimato. Manobrava entre as sombras, para que
ninguém o visse a torpedear o sossego de quem surgisse pela frente. Não
importava que as vítimas fossem escolhidas a dedo ou fossem inocentes apanhados
no meio do fogo perdido de uma peleja que lhes não dizia respeito. Queria-se
sossegar: lá fora, onde a selva é desabrida, não há inocentes. Todos somos
culpados de alguma coisa. Imberbes os que julgam a bondade dos homens, que a
bondade é do domínio da ficção; líricos os que se dão à inércia, dizendo que à
maldade de uns não se deve responder com a maldade dos outros, ou um dia ardemos
enredados na nossa coletiva loucura.
A hipocrisia não o fazia corar de
vergonha. Ao contrário: era uma arte sublime, só praticável pelos que se amestraram
nas táticas castrenses próximas da arte da guerra. No limite – julgava o
incendiário sem remissão – estamos todos em estado de guerra. Mesmo que não usemos
armas de fogo. Podemos apenas atear fogos. Fogos de diversa igualha. Uns,
pequenos, só para atordoar adversários, ou para marcar posição e não sermos
incomodados. Outros, devastadores, para destruir quem for um embaraço. Usando
máscara para não ser reconhecido, pois o disfarce é garantia para continuar a
vingar no meio. Ou passando entre os pingos da chuva, ou como só aos vultos é
dado a alcançar quando não afrouxam na ardilosa tarefa de passarem sem serem
vistos entre duas penumbras.
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