Noiserv, "This may be the place where trains are going to sleep at night", in https://www.youtube.com/watch?v=L5STwfCs6g4
Os ouvidos decantam os sentimentos. É
neles que se esconde o mapa que franqueia o sortilégio dos sentimentos. Os
sentimentos, quaisquer que sejam – os que vêm afivelados por boa têmpera e os
que são consumições tardias de um mal escusado.
Os ouvidos devem-se encostar às bainhas
da alma. Procuram as ondas hertzianas que refulgem a ossatura dos sentimentos.
Se não for dado escutar a consistência dos sentimentos, não é possível
entendê-los. O mais certo é empurrar as resoluções para a frente dos
sentimentos, por uma extemporânea alcáçova se interpor entre as fundações dos
sentimentos e aquilo que deles se julga serem. É como se fosse imperativo
cartografar as linhas dos sentimentos. Decifrar as esquinas em que se dobram
para sentidos que não são dados a conhecer aos olhos desatentos.
A acústica revolve na profundidade dos
sentimentos. Deita fora a espuma que pode cegar o entendimento e traz à tona a
essência que purifica os sentimentos. Ou que se julga ser sua purificação. A
audição dos sentimentos não é um exercício de exatidão matemática. Varia de
pessoa para pessoa. A perceção da audição também. Quando vem tanta
subjetividade ao trono, não se pode presumir que os alinhavos da audição dos
sentimentos sejam matéria precisa, um novelo sem nós a atrapalhar a fiada. É
como olhar para o horizonte e saber que há nacos do céu que estão calados por
nuvens finas que emprestam cores diferentes ao entardecer. As nuvens não são um
estorvo; fazem parte da tela contemplada pelos olhos. Que vêm através dela, sem
embaraços. Porque a audição deixa ver além das fronteiras que impedem o olhar.
É assim com os sentimentos. Não se é
prisioneiro dos abcessos que impedem uma feição vítrea ao olhar. Emprega-se a
audição, em meticulosa operação, para tirar as medidas ao que o olhar não
distingue no embaciamento que lhe é devolvido. E confia-se nessa intuição.
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