Keep Razors Sharp, "I See Your Face", in https://www.youtube.com/watch?v=0Nb_NaM3ijg
Um mar inteiro de diferença. A tanta água
de separação, maior do que promontórios escarpados. Às vezes, os antípodas
parecem cinzelados nas próprias costas. As sombras enegrecem, as cortinas
sobrepõem-se, o olhar perde-se na escuridão consecutiva. O corpo parece que
entra em falência, sem todavia falecer.
As ondas pretéritas cavalgam no estigma
do tempo presente. Ou, talvez, seja o tempo presente que se refrigera com o
estigma das ondas pretéritas. Seja o que for, é a distância que se estabelece.
Se às vezes podem léguas imensas não chegar para serem tutoras da distância, de
outras um pequeno espaço transfigura-se em distância imensa. Não importam as
léguas que são, nem as léguas que as pernas atravessam no hiato entre dois
corpos. A água imensa, fruto das opostas margens de um oceano, sussurra nos
contrafortes do silêncio. Um silêncio que ensurdece as palavras. Um silvo
ocasional, vindo de um corvo, parece romper o silêncio. Ou os olhares que se
entrecruzam com escassa frequência, e que, todavia, são mantimento de palavras
que se encerram nos olhares.
Ao olhar na retaguarda, vêm-se ao longe
as dezoito léguas de onde o corpo veio. Quis achar cais onde pudesse ter regaço.
As léguas todas saciaram a sede das palavras promitentes. Depois das léguas,
das dezoito ou das que preciso fossem, tudo seria diferente. Um mão estendida.
Um olhar animador. As palavras perfumadas. Uma existência que preenche a outra
por dentro, na totalidade do ser. As léguas percorridas não foram em vão. O
cais tinha as cambiantes de uma casa, ou de uma caixa forte onde passavam a
estar alojados os nutrientes da existência. Foram dezoito léguas. Se fossem
dezoito mil, elas teriam sido achamento na mesma. Para além do horizonte que o
entardecer esconde, sobeja um vento corajoso que leva os corpos por uma
centelha vinda da rosa dos ventos. As manhãs passaram a ser sinfonias adestradas
pela batuta de um maestro metódico.
Dezoito léguas depois, o achamento de
tudo. A temperança de ser totalidade por dentro do ser.
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